Na adolescência encontrei um livro que muito marcou a minha vida e me fez entrar numa fase de dúvidas — muitas dúvidas — filosóficas e religiosas. Sobrevivi a todas e mantive definitivamente os meus ideais cristãos. Esse livro ocupou meu pensamento e permanece até hoje como uma fonte de indagações não respondidas, provocação permanente a incitar o meu raciocínio. Já o título do livro era uma formulação desafiadora: O Sentimento Trágico da Vida. Mais tarde a Igreja o colocou no Index librorum prohibitorum. Seu autor é o grande filósofo espanhol Dom Miguel de Unamuno, que foi Reitor da Universidade de Salamanca — pertenço, com orgulho, a um dos seus Conselhos. Ali fiz uma conferência quando do Centenário de Jorge Amado, analisando sua obra e importância na literatura brasileira, e lembrei, para admiração geral, o verso de Júlio Dantas, em A Ceia dos Cardeais, quando colocou na palavra do Cardeal Rufo a expressão do temperamento de fanfarronice ibérico: “Não matei em duelo o Sol, pelas alturas / Só para não deixar Salamanca às escuras!”
Lembrei-me desse livro ao viver uma comoção que não passa com a situação trágica do País, com essa pandemia que ameaça o futuro da humanidade por um vírus, uma partícula submicroscópica, que não chega a ser um organismo, que não é um ser vivo, mas é a porta da morte, que como um dragão apocalíptico se transforma a cada instante em variantes mais transmissíveis e mais letais. Vivemos, assim, com medo desse monstro nos possuir e com uma infindável percepção de perda. Não há quem não compartilhe das lágrimas das famílias dos mais de 270 mil mortos, dos 2349 homens e mulheres cujas mortes, na quarta-feira, colocaram o Brasil na vergonhosa e podre posição de ser o primeiro país do mundo nesse ranking do terror. Não há flores em nossos corações suficientes para ocupar o pedaço de chão onde essas pessoas repousam por toda a eternidade. Esses números destroem todos nós, presos de uma tristeza que não passa.
Viver é ter um privilégio, uma vitória desde o nada. Cada vez que a relação sexual entre um homem e uma mulher gera um ser humano, somente um entre cerca de vinte milhões de espermatozoides consegue alcançar e fertilizar o óvulo. Já nascemos vencendo uma competição entre vinte milhões de concorrentes. A vida é uma graça de Deus. Temos o dever de zelar por ela, por nós e pelos outros, pelo amor e pela esperança — e contra aquele lema da Falange na Guerra Civil Espanhola: “Viva a morte!” Estamos a vislumbrar uma ameaça ao futuro da humanidade, com o raio de uma doença desconhecida.
Cruel ver tratar-se agora de outras coisas, todas menores diante do desafio que estamos vivendo. Nada existe para discutir neste momento senão a Covid — a vida e a morte, a vida que precisa vencer a morte — e a desgraça de ver nosso País tendo como marca mundial uma coroa de defuntos.
Raquel Naveira
Tocante artigo do escritor José Sarney: o mundo sob o signo da tragédia, a realidade de estarmos enfrentando uma peste maligna, as coroas de flores sobre os túmulos e os corações.
Concordamos que tudo se tornou menor diante da COVID-19, assunto de vida e morte.
Raquel Naveira
Tocante artigo do escritor José Sarney: o mundo sob o signo da tragédia, a realidade de estarmos enfrentando uma peste maligna, as coroas de flores sobre os túmulos e os corações.
Lembrei-me de uma frase do apóstolo Paulo: “Vivos ou mortos, pertencemos a Cristo”. Esse é o único consolo para os que têm fé.
Glauco Pessoa Wu
Simplesmente magistral,
Um texto para ser lido, relido, pensado e repensado.
O ex-presidente e poeta, já nos seus 90 anos, continua lúcido, vibrante, atual, atualissimo, em minha modestissima opinião!!!
Jozelita Lenza
Parabens presidente!
Pedro Costa
De: Alberto Santoro
Ao Presidente Sarney,
Muito obrigado por me enviar seus artigos semanais alem de seu livro dos seus 90 anos. Fiquei bastante emocionado de ver minha foto e a declaração na qual confirmo sua ação pelo desenvolvimento da ciência. Esta foi uma das suas contribuições há muitas outras certamente. De fato estamos vivendo uma terrivel situação em nosso país. Mas também pela falta de um presidente e uma administração que ame a vida.
paragons! e se cuide!
abraços
Alberto
Pedro Costa
De Márcio Tavares d’Amaral:
Muito lindo! Em todos os sentidos!
Esperidião Amin
Belo e oportuno texto!
LUIS AUGUSTO CASSAS
Alegra-me, a maneira como o presidente José Sarney, formula de maneira poética e humanista, suas perquirições sobre a condição do humano ,mesmo quando o trágico é o fundamento e acontecimento. Prosa sempre leve, ativada por sensível busca na defesa do interesse coletivo, que ajuda a circular o oxigênio de nosso coração.
Paulo Castelo Branco
Presidente e Acadêmico José Sarney.
Seus textos são alívio para a alma.
Rossato
Nosso grande político e poeta, continua brilhando mesmo no momento difícil que estamos passando.