Uma pergunta que passou ao nosso cotidiano é o que vai acontecer com o mundo depois da Covid, que eu considero que não vai passar. Vamos descobrir remédios para o seu tratamento, mas isto vai demorar muitos anos. Temos os exemplos da AIDS. A Covid vai passar e não passará. Permanecerá endêmica. E ela chega num momento em que vivemos entre um mundo em transformação e um mundo transformado.
Estamos em plena revolução digital, com um impacto radical sobre as comunicações, que passaram a nos influenciar e transformaram-se em formadoras de opinião. Tudo mudou. Agora, com estes dois impactantes vetores na sociedade, a revolução digital e a Covid — como ameaça à vida —, temos de lidar com outra maneira de pensar. A sociedade está se contorcendo dentro de nós e não sentimos, somos parte do processo.
Vivemos nossas circunstâncias, que são as da realidade. Porém nossa realidade não é realmente a realidade. Nossos sentimentos e reações estão sendo reciclados e já não são os que nos faziam ser quem somos. “O que em mim sente está pensando”, diz o verso de Fernando Pessoa, no desejo de ter a “alegre inconsciência” da ceifeira. Só que hoje, sentir e pensar não são mais faculdades do ser individual e sim do ser coletivo de que somos parte.
Nossas antigas almas estão morrendo e não sentimos. O amor deixou de ser amor, como o concebíamos no passado. O mesmo acontece com a amizade, com a noção de convivência, com o ódio e a cólera. Estamos perdendo até a indignação, todos submetidos ao uso de uma droga tecnológica. As próprias drogas fazem parte deste contexto. A diferença é que estas são substâncias químicas. A droga da modernidade, das diversas mídias, nos impõe uma situação mais perigosa que a de não ter a liberdade de não as ingerir, porém a obrigação de consumi-las.
O culto da velocidade dos deslocamentos. Não temos mais a liberdade de andar. As distâncias, o estilo de vida que foi criado nos fizeram dependentes da velocidade, do patinete, da bicicleta, da moto, do carro, do ônibus, do trem, do avião. Tudo isso é incompatível com a Covid e será com o pós-Covid.
Vão incorporar-se ao novo estilo da sociedade essas mudanças. A internet, entre outras coisas, matou a verdade e são tantas as verdades que não sabemos qual é a verdade verdadeira, na consumação literal da frase de Swift: “A mentira voa e a verdade vai capengando atrás dela”. Quem a escolhe são os que comandam a comunicação.
Bauman identificou uma sociedade, a da incerteza, a líquida, com cultura líquida, arte líquida, amor líquido e há dez anos o filósofo coreano Byung-Chul Han definiu outra: a do cansaço. Eu me arrisco a vislumbrar uma terceira, que é a do momento que estamos vivendo: a do medo e do confronto dos costumes.
A juventude ainda não as sente, resiste e convive com a sublimação dos seus prazeres. A pós-modernidade, que trouxe tantas formas de pensar e viver, vai também perplexa sentir o que nós sentimos: a nossa sociedade acabou.
Era boa e sublime. Que a do futuro também o seja. Vamos rezar para que não seja a bela e a fera.
Walquimária
Me pergunto muito sobre quem seremos nós após a Covid. Infelizmente não penso que seremos pessoas melhores, poderemos talvez sermos pessoas mais autênticas, pois que as redes sociais têm permitido, que através do suposto anonimato, venenos sejam destilados de todos os cantos do mundo. Mas, tornamo-nos pessoas mais espitirualizadas e irmanadas com Universo, isso não. Essa construç˜ào da Dividande que está destinada a todo filho de Deus, é obra de longa maturação. Dessa forma, penso o futuro, o futuro espiritual esclareço, é bela, não fera. Mantenhamos a fé na harmonia do Universo e esperemos.
Janary Carvao Nunes
Ensinamentos preciosos sobre os tempos que vivemos! Parabéns, Presidente Sarney!
Fabio Lenza
Parabéns Presidente pela bela reflexão.