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Dica cultural: Sagarana de Guimarães Rosa

Dica cultural: Sagarana de Guimarães Rosa

Aos domingos, o site A Página do Sarney publica uma indicação cultural para os leitores. Todas as obras são indicadas pelo escritor e ex-presidente da República, José Sarney.

A dica deste domingo é a obra Sagarana de Guimarães Rosa, cuja primeira edição foi publicada em 1946. Dividida em nove contos longos, entre eles, “O Burrinho Pedrês”, a obra é ambientada no sertão mineiro, com descrições detalhadas de paisagens e costumes e o enredo dos contos versam sobre lendas e relações sociais, sendo um retrato profundo das raízes brasileiras. A partir daí, o autor aborda temas universais com base nos aspectos da vida daqueles personagens.

Além de “O Burrinho Pedrês”, a obra possui os contos  “A Volta do Marido Pródigo”, “Sarapalha”, “Duelo”, “Corpo Fechado”, “Conversa de Bois” e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, muitos deles, adaptados para o cinema e teatro. 

Uma das edições do clássico publicado em 1946

Curiosidade

Antes da publicação em 1946, Sagarana teve uma outra versão intitulada  Contos e que participou de um concurso literário no Rio de Janeiro, ficando o autor em segundo lugar. Depois, Rosa fez modificações na obra original. Uma delas foi no nome, que ele optou por um neologismo, algo muito presente na obra do autor, ao juntar “saga” e “rana”. “Saga “ tem origem germânica e significa narrativa fecunda,  lenda ou conto heróico e “rana”, sufixo de origem tupi que significa “possui semelhança”. 

 

Autor

Diplomata e médico, João Guimarães Rosa  (1908 – 1967), foi um poeta, contista e romancista com grande importância na literatura brasileira, ele fez parte da terceira geração do Modernismo no Brasil, a chamada “Geração de 45”.  

Suas obras têm como característica marcante a ambientação no Sertão do Brasil, com ênfase na forma de debater temas nacionais sob o ponto de vista regionalista, a partir do modo de vida das pessoas. Um de seus títulos mais conhecidos é “Grande Sertão: Veredas”, publicado em 1956,  com várias reedições para outros países. 

Estudioso da cultura popular brasileira, levou essa observação do cotidiano para a forma que seus personagens se expressavam em seus livros. É latente na obra de Rosa, o uso de neologismo e de palavras populares, criando um estilo singular na forma de retratar a gente brasileira.

Guimarães Rosa ocupou e foi Patrono da cadeira nº 2 na Academia Brasileira de Letras, tomou posse, no dia 16 de novembro de 1967, três dias antes da sua morte, após sofrer um infarto no dia 19 do mesmo ano. 

Cena do filme “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, lançado em 2011. Antes dele, uma outra obra cinematográfica do conto de Rosa já tinha sido lançada em 1965

Trecho da obra (conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga)

Matraga não é Matraga, não é nada. Matraga é Estêves. Augusto Estêves, filho do Coronel Afonsão Estêves, das Pindaíbas e do Saco-da-Embira. Ou Nhô Augusto — o homem — nessa noitinha de novena, num leilão de atrás da igreja, no arraial da Virgem Nossa Senhora das Dores do Córrego do Murici.

Procissão entrou, reza acabou. E o leilão andou depressa e se extinguiu, sem graça, porque a gente direita foi saindo embora, quase toda de uma vez.

Mas o leiloeiro ficara na barraca, comendo amêndoas de car tucho e pigarreando de rouco, bloqueado por uma multidão encachaçada de fim de festa.”

 

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