Um Marco na Cultura Afro-Brasileira: a criação da Fundação Palmares

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A criação da Fundação Cultural Palmares, em 22 de agosto de 1988, permanece como um gesto decisivo no processo de reconstrução democrática do Brasil. Ao instituí-la, o presidente José Sarney inaugurou o primeiro órgão público federal dedicado integralmente à cultura afro-brasileira — um reconhecimento histórico da profundidade, da força e da centralidade das tradições negras na formação nacional. Em sua coluna publicada no último dia 21 de novembro, ele próprio lembrou: “Criei a Fundação Palmares, que até hoje é o grande instrumento a promover esse destino.”

Num momento em que o Brasil buscava reencontrar sua própria identidade após décadas de silenciamento, a Fundação Palmares surgiu como um espaço de memória, reconhecimento e afirmação. Foi um marco que abriu caminhos para que tradições, saberes, territórios e manifestações culturais historicamente marginalizados ganhassem visibilidade, respeito e proteção.

A iniciativa de José Sarney permanece como um capítulo importante da política cultural brasileira, lembrando que a democracia se fortalece quando abraça suas múltiplas vozes, memórias e ancestralidades. Esse marco não foi isolado. Antes mesmo de a pauta das ações afirmativas entrar no vocabulário público, Sarney apresentou no Senado o primeiro projeto de lei abrangente sobre cotas raciais no Congresso Nacional. Ele recorda: “Sem que nunca se tivesse falado sobre isso no Brasil, apresentei no Congresso Nacional o primeiro projeto abrangente sobre cotas raciais e ações afirmativas, dando a oportunidade de os negros terem uma cota de participação não somente no ensino médio e no universitário, mas também em vários setores da sociedade, de modo que eles ascendessem a camadas mais altas em nosso país,” escreveu.

Hoje, quando se vê em novelas, telejornais, séries e programas de TV a presença vibrante de profissionais negros ocupando espaços de destaque, essa transformação ecoa o que Sarney descreveu com sensibilidade: “Vejo na televisão, nas novelas, em telejornais e em diversos programas a participação do talento negro com seus valores, sua alegria, sua cultura e sua musicalidade, que eles trazem no sangue.”

No Mês da Consciência Negra, revisitar esse percurso não é somente lembrar um decreto ou um projeto de lei — é reconhecer o início de uma mudança de perspectiva no Estado brasileiro. A Fundação Cultural Palmares tornou-se guardiã de memórias, territórios, expressões artísticas e formas de ancestralidade que moldam a identidade nacional. É um símbolo de que políticas públicas podem resgatar histórias silenciadas e ampliar horizontes.

Celebrar essa criação é reafirmar um compromisso: o de um Brasil que reconhece, valoriza e honra a contribuição do povo negro para tudo aquilo que somos.

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