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A Estrada das Onças

A Estrada das Onças

A Estrada de Ferro Norte-Sul, pela qual paguei um alto preço e que foi combatida fortemente por aqueles que consideram a política acima do interesse público, está em fase de conclusão. Se tivessem permitido que a fizesse durante o meu governo, o Brasil seria outro hoje. 

Sempre defendi o modelo ferroviário e por isso recebi um boné de maquinista da Associação dos Ferroviários, que até hoje guardo com o maior carinho. As estradas de ferro foram o transporte do passado e agora ressurgem como o transporte do futuro, com um horizonte aberto pelas novas tecnologias de construção e trens de alta velocidade. 

Há três dias o governo assinou o contrato de concessão de dois ramos prontos da Norte-Sul, com o governo recebendo um ágio de 109,2 % acima do piso da licitação, isto é, dois bilhões e setecentos e dezenove milhões de reais, quando o preço mínimo era de um bilhão e trezentos milhões. 

A disputa pela estrada foi tão grande que a RUMO, empresa vencedora, ouviu do Ministro dos Transportes a afirmação de que “a Norte-Sul é espinha dorsal dos transportes no Brasil”. Quando lancei a Ferrovia Norte-Sul, quase toda a imprensa dizia que a estrada seria uma desgraça para o Brasil, porque era “um golpe do Sarney para levar as cargas brasileiras para embarcar no Maranhão, no Porto do Itaqui, dinheiro botado fora”. O tempo é mesmo o grande mestre da razão: hoje vejo todos a favor da estrada e ela já está dando dinheiro para o País. 

Realmente, o Brasil precisa com urgência construir mais estradas de ferro. O modelo rodoviário está morto. As cidades estão saturadas de veículos, não se anda mais, o tráfego é caótico. As rodovias acabadas e engarrafadas. Esse o principal componente do “custo Brasil”, que diminui nossa competividade internacional. E o mais grave: o País na mão dos operadores de transporte. Eles podem parar o Brasil a qualquer hora, estamos reféns de sua vontade. Basta uma greve. A que foi feita no final do ano passado provou isso. 

São Luís, como um dos dez melhores portos mundiais, será no futuro o grande curador dessa tragédia. 

Foram necessários muitos anos para que se abrissem os olhos da razão, e todos reconhecessem que se parou o Brasil. 

Mas agora fico feliz. Dei ao Maranhão porto, estrada e energia. Temos a grande estrutura nacional para sermos o grande São Paulo do Norte-Nordeste.Em vez de “estrada das onças”, como diziam quando a atacavam, hoje a Ferrovia Norte-Sul é a “estrada da salvação”.

José Sarney foi Presidente do Brasil, Presidente do Senado Federal, Governador do Maranhão, Senador pelo Maranhão e pelo Amapá e Deputado Federal. É o político mais longevo da História do Brasil, com mais de 60 anos de mandatos. É autor de 122 livros com 172 edições, decano da Academia Brasileira de Letras e membro de várias outras academias.

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