Close

A Luz da Esperança

A Luz da Esperança

Duas interjeições contam toda a história de nossa fé: — “Jesus nasceu!” e — “Jesus ressuscitou!”

Estas declarações culminam o Credo — “… foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao reino dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia…”. Um e outro milagre têm consequências transcendentes, no sentido mais estrito desse adjetivo, que é estar acima do universo físico.

O ressuscitar quer dizer que podemos, que devemos sair da condição de sujeitos à morte para a vida eterna, e vida encarnada, com o nosso corpo, simultaneamente o corpo que tivemos, o que temos e o que teremos, na convivência com os nossos queridos que se foram e, sobretudo, espantosamente, com o próprio Deus. São Paulo dizia que sem ressurreição não há cristianismo.

O nascer quer dizer que Deus, por seu Espírito Santo, se encarnou no ventre de uma mulher e se fez homem, destinado a sofrer desde o grito inicial do ar que lhe entrou nos pulmões até à dúvida e à angústia da morte de cruz.

Deus se fez homem! No Evangelho lido neste dia 25, João o conta com o rigor da síntese: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós!” Na missa do 4º Domingo do Advento, que este ano caiu no dia 24, Lucas se alonga: “O anjo lhe disse: — Não tema, Maria, porque tiveste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho: lhe darás o nome de Jesus.” Na noite de domingo, na Vigília de Natal, o mesmo Lucas nos contou: “… se cumpriram os dias para o parto, e ela pôs no mundo o seu filho primogênito, e deitou-o em uma manjedoura, porque não havia lugar para ele na hospedaria. Estavam na mesma região uns pastores que guardavam as vigílias da noite. O anjo do Senhor se postou diante deles e envolveu-os uma grande luz. “Não temais, vos anuncio uma grande alegria: nasceu o Salvador, que é Cristo Senhor…”

O padre António Vieira, em sua argúcia, viu que o arcanjo deu a Maria todos os títulos — “grandezas, altezas, e glórias” — do filho que conceberia, e nenhum dos que a ela seriam dados. Não importavam, na verdade, para Nossa Senhora: ela toda se entrega imediatamente à gratidão por ter “olhado para sua serva”. Mas se o arcanjo calou por desnecessário a grandeza da Mãe, fez-lhe a imensa caridade de não lhe dizer ou lhe lembrar — já os profetas haviam narrado o que seria a vida daquele menino — o que aconteceria a seu Filho.

Nos curtos anos da passagem de Jesus na terra, e nos mais curtos ainda em que andou entre a vila de Nazaré e a cidade de Jerusalém, Ele esteve todo entregue à tarefa de ser homem — e de cumprir as regras que anunciou para a bem-aventurança. Ser pobre de espírito, para ter o Reino dos Céus. Ser doce, para obter a Terra Prometida. Chorar, para ser consolado. Ter fome e sede de justiça, para ser atendido. Ser misericordioso, para obter misericórdia. Ter um coração puro, para ver o esplendor do Pai. Ser artífice da Paz, para ser chamado filho de Deus. Ser perseguido pela justiça, para ter o Reino de Deus. Ser insultado e acusado falsamente de todo o mal, para ter grande recompensa nos Céus.

Esse roteiro, em que amou e foi amado, foi adorado e traído, andou na companhia de prostitutas e morreu ao lado de ladrões, foi lapidado e caminhou para a morte entre palmas e ramos de oliveira, tem uma pausa para Maria quando, descido da cruz, ela o toma nos braços, Pietá dolorosíssima! Não termina aí, pois ela O vê ressuscitado, e logo ascende ao Céu para viver em Sua companhia.

Deus se fez homem e, para habitar entre nós, teve que sofrer em si tudo que sofremos, nós, privilegiados, mas sobretudo nós, pobres e desprovidos, vítimas de todas as brutalidades e sevícias, teve que viver todas as paixões do homem, inclusive o desespero, inclusive a raiva de ver que se mercadeja o amor do Pai, teve que partilhar a grandeza e a pequenez do ser humano.

Mas o prêmio maior, a ressurreição, o milagre que encerra sua primeira vinda, está todo ali, posto naquelas palhas gloriosas diante das quais se ajoelham a Virgem Maria, São José, o boi e o burro, os pastores: um menino frágil, na noite fria, sob o canto dos anjos e a música das estrelas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *