Morreu a Rainha Elizabeth II.
A notícia estava redigida, mas há um sentimento generalizado de perda que corresponde a sua presença no imaginário universal desde o fim da II Guerra Mundial, ainda antes de ser rainha. Tinha sido preparada para a função, mas isso não diminui o extraordinário esforço para exercê-la com a contenção e a disciplina necessárias ao Reino Unido.
Ela deixa o exemplo de que o dever com o Estado passa, muitas vezes, à frente do comportamento pessoal. É o que chamei de liturgia do cargo — e que procurei também cumprir com rigor. Para isso é preciso compreender que a chefia do Estado é a face exterior do cerne das nações, que é a soberania. Se da chefe de Estado se tem, como mostrou a Rainha, uma imagem de serenidade e paciência, de compromisso com o povo, de respeito pelo governo, se forma um paradigma que atravessa o tempo, que garante a permanência da união da sociedade de que fala Hobbes no Leviathan.
Mas a Rainha Elizabeth não foi apenas a modelar chefe de Estado que marcou uma era. Foi também uma pessoa que soube formar uma família, superando a infatigável rede de maldizer, intrigas, gossip, fakenews que, se espalhando por toda a Terra, nascia dos tabloides ingleses, reis do sensacionalismo. Pouco importando se com ou sem alguma base de realidade, o direito à privacidade nunca existiu para a família de Elizabeth Alexandra Mary. Foi preciso que, ao contrário da submissão ao bem comum que marcou sua chefia de Estado, usasse um pulso firme e um grande sentido de comando para superar esta guerra.
Imensamente rica, a Rainha Elizabeth nunca pareceu se deslumbrar com sua riqueza. As imagens que ficam, depois de passar por essa nuvem de desinformação, são de uma mulher que gostava dos grandes espaços dos Highlands escoceses, de sua casa de Balmoral — sua, não da Coroa inglesa — e de seus cachorros, cavalos e jipes. Com esses convivia desde que aprendera mecânica para servir durante a Grande Guerra.
Estive duas vezes com a Rainha. Nas comemorações do Bicentenário da Revolução Francesa, quando Mitterrand teve a gentileza de, no banquete oficial, colocar-me a sua esquerda enquanto à direita colocava o Príncipe Charles, trocamos algumas palavras, de que guardo sua declaração de que no Brasil a força da natureza era sentida acima da presença do homem. Os retratos não conseguem representar a sensação de autoridade e tranquilidade que passava.
Quando ficamos muito velhos, passamos a ter uma visão dos acontecimentos com um distanciamento que não é uma relativização do tempo ou uma desconsideração com a História. É antes um sentimento de que, bons ou maus, eles passam, deixando para o “tempo futuro” — como dizia Eliot — apenas o fato de serem “tempo passado”. Os julgamentos, então, são menos importantes que as lições que deixam: a do agir correta ou incorretamente, a de ser bom ou ser mau, a de cumprir ou não cumprir com o seu dever.
O homem é o homem e suas circunstâncias, diz Gasset. A Rainha Elizabeth I foi uma extraordinária figura em tempos extraordinários. Contemporânea de Shakespeare, John Donne, Thomas Hobbe, Francis Bacon, coube a ela tornar a Inglaterra uma potência mundial. A Rainha Elizabeth II viveu outros tempos: o Reino Unido se recuperava com dificuldade da calamidade da guerra, o império se esfacelava, a dívida com os americanos parecia impagável. E, sobretudo, ela não governava.
Mas a Rainha fez mais que governar. Ela foi o símbolo em quem se miraram os britânicos para superar os desafios e permanecer entre as grandes nações do mundo.
Deus guarde a Rainha.
José Abdias Albuqurque
Cultura exuberante, e a prosa refinada, agradável, fazem de SARNEY uma pessoa que se situa em uma outra dimensão, raríssima nos dias presentes.
ALGUÉM neste nosso país precisaria, agora também já é tarde, .. ter umas aulas de comportamento, de convivência humana, fazer jus ao cargo que por um abismo da vida lhe chegou às mãos !
O professor Sarney deve dar “zero” em tudo que essa figura pratica, age, se move, convive com outros semelhantes, digo outras pessoas, … Antigamente seria levantado pelas orelhas, como castigo pelo que pratica. ATÉ BREVE, e PARABÉNS.
Julio Cesar Gomes dos Santos
Sem dizer-me nada, surpreendeu-me um dia a noticia no Diario Oficial de que o Presidente me havia nomeado seu Chefe do Cerimonial, na vacância do cargo com a partida de meu antecessor, e saudoso Chefe, Embaixador Alves de Souza para a Embaixada em Praga. Eu, Conselheiro ainda, sub-chefe respondendo pela função e no aguardo da nomeação do que viesse me chefiar.
Diante da surpresa fui ao seu gabinete quando me disse sem rodeios: “Julio, a sua primeira e grande responsabilidade é a de ser guardião da liturgia do meu cargo”
Jose Bonifacio Barbosa
Sou admirador do político ZE Sarney! Sou leitor de sua coluna! Já o conheço desde de quando foi governador! Quando era presidente da república recebeu uma comitiva da maçonaria brasileira, da qual fiz parte! Parabéns Presidente Sarney !
Pedro Nadal Adam
A falta de decoro parece ser um padrão atual, a Rainha foi um grande modelo da abnegação que as funções públicas impõe. Comedimento e respeito.