As águas perseguem os homens desde Noé. São comuns a todos os povos os relatos de dilúvio. Há descrição na mitologia e nas religiões. A Bíblia diz que o mundo era somente água e que Deus, depois que fez a Terra e o homem conheceu o pecado, resolveu voltar o mundo todo ao aspecto primitivo aquoso, fazendo o dilúvio, mas salvando os bons homens e os animais. Foi assim que a Arca ficou presa no Monte Ararat.
A Epopeia de Gilgamés, com o mitológico deus-herói, descreve um dilúvio sobre toda a Terra (séc. 7 a/C). Era para servir como punição aos homens.
Os fenômenos a que estamos assistindo ficam interpretados no seu tempo. Claude Lévi-Strauss, o grande antropologista e talvez o maior pensador do século passado, afirma que a Terra vem sendo vítima da poluição e que o maior poluidor é o homem. Assim, através dos milênios, ele vem destruindo plantas, desertificando áreas imensas e jogando milhões de toneladas de carbono na atmosfera, o que virá a transformar o nosso planeta em um lugar impossível de se respirar.
Os cientistas dizem que possivelmente o Sol se expandirá até tornar-se uma gigante vermelha, e a Terra será vaporizada, depois de passar por longo período em que formas de vida ainda serão possíveis, apesar das temperaturas altíssimas.
O homem, quando passou a viver em comunidade, procurou localizar-se nas margens dos rios. Havia uma motivação natural. Os rios tinham função de saneamento, forneciam água para alimentação, higiene, transporte, pescaria e até para guerras entre tribos. As tribos nômades, principalmente, se aventuravam mata adentro para coleta de frutos e para caçar. Alguns antropólogos dizem que nossos hábitos alimentares, de comer carnes e criar animais para abatê-los, têm raízes nos homens primitivos.
Agora, com as evidentes mudanças do clima, comprovadas cientificamente, as chuvas volumosas sofrem a influência do aquecimento dos oceanos — El Niño e La Niña —, provocando grandes enchentes localizadas, afetando grandes cidades e até capitais à beira de rios, onde foram plantadas.
O Rio Grande do Sul agora foi atingido por uma dessas mudanças no clima, resultando numa tragédia de gigantescas proporções, a despertar uma consciência natural de solidariedade, comovente e emocional, que, alimentada pelo poder das redes sociais e de todos os meios de comunicação, levou apenas algumas horas para atingir uma escala mundial.
Estes fenômenos climáticos são contraditórios num país continental como o nosso, a lidar com enchentes e secas. O próprio Rio Grande do Sul foi vítima de uma e de outra em pouco espaço de tempo.
Deus tem o Seu tempo, seja feita Sua vontade. O preço de viver tem suas agruras. Tudo isso é para manter a nossa fé. Tudo passa. Só Deus não.
Vamos reconstruir o Rio Grande do Sul com amor e solidariedade. Somos todos irmãos.