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Ataque inútil

Ataque inútil

Reuters/Amir Cohen

O mundo está assistindo — perplexo e, ao mesmo tempo, temeroso das consequências que podem ser geradas — a guerras localizadas no Oriente Médio. A maior e a raiz de todas elas: a luta de Israel contra os países árabes. Vimos, ontem à noite, o que foi proporcionado pela televisão: nos céus de Israel, mísseis iranianos e o escudo de ferro israelense em enfrentamento.

Sem dúvida, é uma irresponsabilidade essa atitude do Irã de atacar o território israelense, porque isso não se enquadra em represália nem com a cobertura dos instrumentos legais que regulam as relações entre os países aprovadas pela ONU.

O ataque à Embaixada iraniana por Israel não se configura em um ataque ao território do Irã. Portanto, esta atitude da teocracia iraniana, comandada pelo aiatolá Khamenei, não tem cobertura legal, uma vez que as embaixadas não constituem território dos seus países, mas o reconhecimento de que estes espaços têm independência e autonomia, sob a jurisdição do país representado, diferentemente do ataque iraniano, que se dirigiu ao território de outro país, no caso Israel, o que todo o mundo e as instituições multilaterais condenam, pois a soberania e a integridade territorial do país foi claramente violada.

Felizmente, a América Latina é o continente mais pacífico da face da Terra. A última guerra que tivemos foi a do Chaco, entre Bolívia e Paraguai, por volta de 1932. Temos um equilíbrio estratégico na América do Sul que desestimula qualquer solução de força, pois nossos orçamentos militares são pequenos e nossas Constituições pregam o pacifismo. Assim, com o exemplo do Oriente Médio, devemos ser sempre vigilantes para que não se instale qualquer conflito no território da América Latina. É bom lembrar que Churchill, quando denunciou o rearmamento da Alemanha, foi acusado de ver fantasmas ao meio-dia. Assim devemos imediatamente evitar essas bravatas venezuelanas de outro chefe de Estado adepto da força, destruindo as instituições democráticas, que agora ensaiou invadir o território de Essequibo, fato que não pode parecer para nós da mesma maneira como o que ocorreu com Churchill.

É bom lembrar que essa questão já tem mais de um século. Eu, em 2007, em artigo que publiquei na Folha de S. Paulo, denunciei a atitude de Chávez ao tentar tornar a Venezuela uma potência militar, adquirindo caças russos, estações de radares chineses ultrassofisticadas, navios, submarinos, milhares de rifles poderosos, distribuídos a milícias populares, com o direito de produzi-los.

Afirmei no Senado, naquele tempo: já que habitamos um continente pacífico, armar-se desta maneira, ensejava as perguntas: contra quem? Para quem? Com que objetivo? Denunciei que o objetivo era tomar o território de Essequibo da Guiana. O que agora acontece foi previsto por mim, como a questão de limite da qual o Brasil participou e perdeu, no laudo do rei da Itália, parte do nosso território que nos levava à fronteira com a bacia do rio Essequibo. Logo, um ato dessa natureza, que, agora, Maduro confessa ser um dos seus objetivos, nos oferece uma visão do perigo que representam para nós uma ditadura na Venezuela e atos como esse do Presidente Maduro. Chávez dizia: “A revolução na Venezuela é pacífica, mas não desprovida de armas.” Lembrava e se inspirava na frase de Lenin, “Camaradas, agora não necessitamos de oposição, é melhor discutir com rifles”.

O ministro Nilson Gibson, em suas memórias, fala de uma proposta venezuelana ao Brasil para reabrirmos essa questão, que nos daria uma parte do território conquistado. O Brasil seria seduzido pela Venezuela para juntos reabrirmos o caso das fronteiras com a Guiana; ao aceitar essa ocupação, teríamos uma parte daquele território.

Assim, devemos tomar esse assunto do Oriente Médio como um alerta para não permitirmos que se instalem em qualquer país da nossa região armamentos que ameacem o equilíbrio estratégico da América Latina.

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