O século XX foi caracterizado como o mais violento da história do Mundo Ocidental.Tivemos duas guerras mundiais, com milhões de mortos. Pensou-se que, depois da última, o mundo iria viver em paz e harmonia; mas surgiu uma nova espécie de guerra, que foi a Guerra Fria, da confrontação e da ameaça da arma nuclear. Houve o enfrentamento de duas ideologias: a comunista e a capitalista. Na esteira da descolonização e da maior onda de democratização que já vivemos, a queda do Muro de Berlim acabou a Guerra Fria. Mas na Continue a ler
Senado Federal, Brasília, 19 de junho de 1972 Senhor Presidente, Srs. Senadores, realizou-se e foi encerrada, ontem, em Estocolmo, a conferência que as Nações Unidas convocaram para debater os problemas do meio ambiente. É a primeira tomada de posição da humanidade, através dos estados, sobre um problema que se tornou evidente com o avanço da era industrial. Os resultados parecem que foram muito pálidos. A sua preparação difícil e as controvérsias não ajustadas na agenda preliminar continuaram até o fim dos trabalhos, enfraquecidos pela não participação do leste europeu. Talvez Continue a ler
Academia Francesa, Paris, França, 23 de junho de 2005 Quando a Academia Francesa foi fundada, em 1635, num mundo conhecido, o Brasil era uma indefinida colônia portuguesa, numa América fantástica e de sonhos. Era o tempo da formação do Estado francês, que remonta a Filipe o Belo, conheceu grande impulso sob Henrique IV e foi terminada pelo Cardeal Richelieu. O Brasil era um desenho, linhas imprecisas de um país, cuja única definição estava na cabeça dos reis e navegantes lusitanos. Era tudo mistério e lendas, inventadas e divulgadas na ingênua Continue a ler
Senado Federal, Brasília, 7 de julho de 2006 Esta semana procurei oportunidade de falar, mas, infelizmente, tivemos uma semana entre o vazio e muita coisa a fazer. Mas é do meu dever, antes de começarmos a campanha presidencial, fixar minha posição aqui, porque vou, a partir da próxima semana, como candidato, praticamente me ausentar do Senado. Devo dizer das minhas posições e, ao mesmo tempo, fazer algumas considerações sobre as mesmas. O Senador Geraldo Mesquita disse que o Brasil sofreu muito, a sua torcida sofreu muito. Realmente sofremos muito, mas Continue a ler
Na minha adolescência, um grito incendiava nossos pensamentos de patriotismo: “O petróleo é nosso!” Repudiávamos nossa dependência econômica dos países do “primeiro mundo”, principalmente dos Estados Unidos. Os jovens denunciavam a CIA, o entreguismo, o imperialismo americano como os grandes empecilhos ao progresso do País. Naquele tempo de grande ebulição estudantil, depois da Segunda-Guerra, discutiam-se muito os “ismos”. Eu não me deixei contaminar por nenhum “ismo”, fugi aos aliciamentos ideológicos, para ser aquilo que sempre fui, um liberal, tolerante e humano, seduzido pelos grandes nomes nacionais do antigetulismo e por Continue a ler
Um texto rico, poético e bem-humorado Em 1970 — já um político de peso nacional — Sarney lança aquele que será o divisor de águas em sua literatura: o livro de contos Norte das Águas, um quadro vivo da realidade humana de seu estado. Saudado por grandes nomes da literatura nacional como Josué Montello e Jorge Amado, Norte das Águas surpreende por sua visão humanista traduzida em um texto rico, poético e bem-humorado, sempre capitaneado por belas e fortes personagens. Norte das Águas foi traduzido para o romeno — Continue a ler
A melhor definição de democracia que conheço é de Lincoln: “regime do povo, pelo povo e para o povo”. Na Oração Fúnebre aos mortos no Peloponeso, Péricles fala, pela primeira vez, da necessidade de que um governo seja constituído pelo povo: “chama-se democracia porque não é um governo dos poucos, mas dos muitos”. Era a maneira de superar a lei do mais forte. No Brasil a democracia teoricamente se instalou com a República, antagonista da Monarquia. Mas ela não pôde instaurar o governo do povo, porque o povo não era republicano, e Continue a ler
Fui o Relator no Congresso Nacional da Emenda Constitucional que extinguiu o AI-5, enviada pelo Presidente Geisel. Presidi a Transição Democrática, que convocou a Constituinte e que fez a Constituição de 1988. Sua primeira cláusula pétrea é o regime democrático. Lamento que um parlamentar, que começa seu mandato jurando a Constituição, sugira, em algum momento, tentar violá-la. Devemos unir o País contra qualquer desestabilização das instituições. E sei que expresso o sentimento do povo brasileiro, inclusive das nossas Forças Armadas, que asseguraram a Transição Democrática, que sempre proclamei que seria Continue a ler
Estou acompanhando com grande apreensão o debate sobre o Mercosul, com algumas vozes defendendo a sua extinção. Não quero abordar o assunto sob o ângulo econômico, mas devo fazê-lo sob o geopolítico. Quando assumi o governo, com o desinteresse dos políticos pela política externa, tive margem para buscar concretizar algumas ideias que, como voz isolada, defendera nos meus trinta anos de Parlamento, com o meu conhecimento da História da América Latina, sobretudo do Cone Sul. E uma das coisas que eu não entendia era a rivalidade histórica entre o Brasil Continue a ler
Sobre A Duquesa vale uma Missa O Protagonista é o Amor Nesse romance, José Sarney se põe ao largo das águas do norte, do domínio dos mares do seu Maranhão, das intrigas e sagas de formação do outro território da sua habitação física e afetiva, o Amapá e sua vizinha Guiana, para firmar-se como um investigador do drama humano mais universal. Nos outros livros, estavam lá o amor, a paixão — em Saraminda, quanto! —, mas talvez (é uma hipótese; se não servir, jogue-se fora) o ambiente, o Continue a ler
Fui a Roma para acompanhar as cerimônias de Canonização de Santa Dulce dos Pobres. Enquanto andava pelas ruas da cidade lembrei-me do grande e comovente livro de Afonso Arinos, Amor a Roma. Afonso fez uma dedicatória (“a José Sarney, cuja amizade é uma das alegrias de minha vida”) que refletia uma amizade que vinha de muitos anos e que nascera na casa de Odylo Costa, filho — e se estendia à Annah, sua esposa, a mulher que não só o inspirava, mas que se encarregava de datilografar e preparar os originais. Continue a ler
Estou em Roma, emocionado. Eu que tantas vezes estive nesta cidade, que é uma síntese da História, desta vez aqui me trouxe a fé. A fé numa Santa que conheci muito de perto, que amei pelo seu trabalho e pela santidade de sua vida: Irmã Dulce. Venho para refazer o gesto que fiz em minha vida, beijar-lhe os pés de Santa — que sempre foi e agora o Papa Francisco canoniza. Ainda hoje recordo essa emoção: poucos dias antes de falecer, em seu leito de agonia, no que não era Continue a ler
Volto, como testemunha da minha inconformidade, a abordar a violência no Brasil, que é sempre objeto de legislações novas para aliviar um problema que tem sido insolúvel e no qual, infelizmente, não avançamos. Basta ver o que se passa diariamente, com grande visibilidade no noticiário policial, no Rio Grande do Norte, no Ceará, no Amazonas. Estes são o prato do dia. Atentados que fecham cidades, incêndio de transporte coletivo, assassinato de mulheres e crianças, a barbárie das decapitações – e a constatação de que a Polícia não está preparada tecnicamente Continue a ler
O grande escritor e jornalista, que modernizou a imprensa brasileira, Odylo Costa, filho, contava uma história dos antigos tempos, do início do século XX, no tempo das intervenções salvacionistas, passada com um interventor do Piauí, violento e autoritário, como eram as autoridades daquela época e naquelas circunstâncias ditatoriais. Num Tribunal do Piauí, seu pai, o Desembargador Odylo Costa, foi testemunha da invasão da Corte por um grupo de policiais, que vinha com a ordem do Governo comunicando aos desembargadores que, se concedessem um habeas corpus a um preso que o Interventor tinha Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 13 de abril de 1972 Nada acrescentam ao brilho desta sessão e à glória do grande morto as palavras que vou proferir neste plenário. Contudo a elas sou levado pou um dever de consciência e motivado por dois sentimentos, a que não posso furtar-me. O primeiro deles, o sentimento de admiração, a admiração que votava a Milton Campos; o segundo, da amizade que, se não posso hoje unilateralmente classificar de íntima, também não posso deixar de dizer que era estreita, afetuosa e de longa data. Milton Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 2 de setembro de 1981 O Brasil recebeu, entre atônito e revoltado, a trágica notícia da morte de Glauber Rocha. Na história da inteligência brasileira Glauber Rocha foi, sem dúvida, um dos ins- tantes maiores. Romancista, poeta, jornalista, cineasta, marcou de genialidade todas essas atividades do espírito. Ele resumiu sua presença nesses campos como sendo apenas um “intelectual”, e acrescentava, com a marca polêmica de sua visão do mundo: “Não me cobrem coerência.” Glauber Rocha consumiu a sua vida pela presença constante da paixão. Aqui, nesta Continue a ler
Cemitério da Ordem Terceira, de São Francisco de Assis, São João d’el-Rei, MG, 24 de abril de 1985 O Brasil te conheceu, Minas Gerais, em dias de glória. Em dias de festa, em que os sinos de tuas centenárias catedrais repicavam em alegrias. O Brasil te conhece pelo sangue de teus mártires e pela tua paixão da liberdade. Hoje é um instante diferente. Nesta noite fria, dobram os sinos em silêncio e em finados. O Brasil entrega a Minas Gerais, nesta santa terra de São João d’el-Rei, a relíquia do corpo Continue a ler
Congresso Nacional, Brasília, DF, 13 de novembro de 2003 Senhores Senadores, Senhores Deputados Federais, Senhores Deputados Estaduais, Senhores Vereadores, que minhas primeiras palavras sejam de gratidão. Gratidão, em primeiro lugar, aos membros da comissão organizadora dos festejos e da comemoração destes 180 anos do Parlamento brasileiro, que, durante todo este ano, promoveu eventos, publicações e procurou despertar a consciência nacional para importância desta data: Deputado Chico Alencar, Senador Romeu Tuma, Deputado Bonifácio de Andrada e o Senador Sérgio Zambiazi. (Palmas.) Quero agradecer também a correspondência de sentimento na presença e na Continue a ler
Diamantina, MG, 12 de setembro de 2005 Vejo Diamantina com os olhos de quem a conhece de muitas vezes, tempos e anos, fascinado com o conhecimento de sua história, revivendo a paisagem dos seus faiscadores e pioneiros, caminhantes da Estrada Real, no sonho das pedras feitas do brilho do sol, com a sua poderosa cultura popular, o encanto dos sons de suas modinhas. Diamantina!, meus olhos a veem no símbolo de sua dimensão eterna para Minas e para o Brasil. São lembranças culturais de livros e referências, mas, também, do Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 3 de março de 2010 Neste 4 de março faria 100 anos um dos maiores homens públicos da História do Brasil: Tancredo Neves. O tempo se comporta em relação aos grandes homens de maneira contraditória. Por um lado lança sobre ele as névoas e as garoas da memória, tornan- do menos viva a sua presença. Por outro lado nos permite uma visão perspectiva do passado, tornando mais contrastadas as grandes figuras que sobrevivem e sobreviverão ao seu tempo. Podemos hoje ter uma visão muito mais definida Continue a ler
Desde sempre o grande desejo do homem é fugir da morte e, para uns mais avançados, com uma juventude eterna. Na Grécia a ambrosia dava imortalidade, na Idade Média os alquimistas chineses e europeus buscavam o elixir da longa vida, a pedra filosofal. Um dos livros que mais me marcaram foi o do filósofo espanhol Dom Miguel de Unamuno, motivo de lembrança e emoção quando visitei a Universidade de Salamanca, na Espanha, onde ele pontificou — e onde fiz uma conferência sobre os 100 anos de Jorge Amado. O livro Continue a ler