Mas a transição maior foi aquela que não se vê e é mais profunda: a mudança da sociedade brasileira. Esta era profundamente elitista, as decisões restritas a um núcleo pequeno e privilegiado. As classes trabalhadoras não tinham voz. Havia mesmo uma escala de gradação nos segmentos sociais, uma espécie de castas. Tudo mudou. Hoje, os patrões sabem que somos uma democracia, na qual o seu empregado não é mais o servo que trabalha e dele depende. Ele tem sua própria força, de suas organizações, de sua identidade. Não só a classe trabalhadora, mas o povo todo, nos seus diversos segmentos, se organizou, tomou consciência dos seus direitos e influi nas decisões. Tudo isso foi possível graças ao poder criativo da liberdade. Ela estimulou e criou uma sociedade participativa.
Folha de S. Paulo — 28/10/1994