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Por que São Luís?

Por que São Luís?

A grande tarefa de 1966 era tirar o Maranhão do século 19 e trazê-lo para o século 20. Era um estado totalmente desintegrado e sem cabeça, isto é, sem capital. O sul do Maranhão estava ligado a Goiás e a economia do lado do Tocantins ao Pará. Toda a vida na densa floresta amazônica que acompanhava a rodovia Belém-Brasília e em torno das nascentes do Mearim, do Pindaré e do Grajaú se voltava para o Pará e Goiás, sem nenhuma ligação com o Maranhão.

A margem esquerda do Rio Parnaíba, lado maranhense, tinha toda a economia vinculada ao Piauí e ao Nordeste. Restavam ao território econômico maranhense as margens do Itapecuru, via que no passado fora responsável pela penetração e escoamento do algodão, açúcar e arroz que produzíamos e servira também de via de transporte; mas o rio estava assoreado e sem navegação. 

A estrada de ferro São Luís-Teresina, que o seguia, também estava sucateada e sem carga para transportar, predominando o trem de passageiros que servia às populações das cidades em suas margens. Era a única possibilidade de acesso à capital por terra, passando pelo Estreito dos Mosquitos do continente para a Ilha de São Luís. A capital fantasma, sem porto, sem estrada, mergulhada em decadência, sem água, esgoto, energia, calçamento, estava apenas ligada à Baixada pelos velhos barcos à vela. De Pinheiro para cima tudo se dirigia a Belém: Turiaçu, Guimarães, Carutapera e toda a zona de influência do Gurupi, perto de Bragança. O pato para misturar ao tucupi paraense durante o Círio ia da Baixada.

São Luís era uma cidade velha, cercada de palafitas, pequena e sem perspectivas de crescer. A capital do Maranhão, a cabeça do Estado, sem ser cabeça, era uma cuia vazia cercada de pobreza e de miséria. 

A tarefa primeira era integrar. Ligar o Tocantins, o Parnaíba e o Gurupi ao Maranhão.

Tracei e construí a Açailândia-Santa Luzia, asfaltei e abri a São Luís-Teresina, abri estradas na Baixada, ligadas por Ferry-Boat, construí a Pará-Maranhão, a Porto Franco-Peritoró. Fiz o Itaqui e trouxe o minério por uma estrada de ferro, a Carajás-Itaqui. Tudo foi construído.

Para São Luís o programa era fazer a cidade. Criei a Caema para fazer o novo sistema de abastecimento d’água, armazenada na nova Barragem do Batatã. Consegui com o BID recursos para uma adutora para levar água do Batatã a Sacavém, onde construímos a nova estação de tratamento e deixamos projeto da adutora trazendo água do Itapecuru para São Luís. Fiz uma bateria de poços artesianos para reforçar o sistema de água da Capital, totalmente novo, com novo encanamento e caixas d’água para equalização da pressão. 

Criei a Cohab para fazer casas para o povo, com os conjuntos Anil; no São Francisco, Cohab e Basa; e na nova estrada o Anjo da Guarda. Asfaltei toda a cidade, abri a Avenida Kennedy e a Avenida dos Franceses para dar mobilidade à cidade. 

Substituí a velha rede elétrica. Formei a Telemar para termos um sistema de comunicação da capital com o interior, do Maranhão com os outros Estados do Brasil e melhorar o existente dentro de São Luís.

Mexemos em tudo. Tínhamos que fazer a Capital do Estado. Dar-lhe cabeça. Assim, também construímos grandes obras, a então maior ponte do Nordeste — a do São Francisco —, a ponte do Caratatiua, a Barragem do Bacanga e deixamos projetada a ponte Bandeira Tribuzzi e ainda outra que um dia acabará sendo feita. 

Nascia a nova capital, cabeça do Maranhão Novo, dentro do plano global de integrar o Estado. Hoje, São Luís é duas cidades, a do São Francisco, nova, das praias, com 300 mil habitantes e todos os equipamentos de uma cidade moderna, e a cidade velha, preservada, que Roseana fez Patrimônio da Humanidade. 

Tanto trabalho, tanta coisa, em quatro anos. Sobretudo, mudamos a mentalidade do Estado e civilizamos a política, sem perseguições, violência ou divisão.E hoje somos o único Estado do Brasil sem anistia, que não foi necessária, porque aqui não foi demitido nem cassado ninguém.

José Sarney foi Presidente do Brasil, Presidente do Senado Federal, Governador do Maranhão, Senador pelo Maranhão e pelo Amapá e Deputado Federal. É o político mais longevo da História do Brasil, com mais de 60 anos de mandatos. É autor de 122 livros com 172 edições, decano da Academia Brasileira de Letras e membro de várias outras academias.

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