O fenômeno é geológico e, portanto, acontece antes do tempo da humanidade: a maré sobe e desce mais em função da sizígia, isto é, do alinhamento dos astros, no caso Terra, Sol e Lua e sobretudo dos equinócios, que são os momentos em que o Sol cruza o Equador.
Para proteger os terrenos destas marés grandes, foi preciso que Roseana fizesse o Espigão da Ponta d’Areia. Uma alternativa seria proteger a cidade com diques, à maneira dos holandeses, que vivem muitas vezes abaixo do nível do mar (em 17% do território) e sempre dependentes do manejo cuidadoso das comportas, que permitem o acesso ao Mar do Norte ou aos lagos como o Markermeer, que banha Amsterdam.
Esses holandeses — naturais dos Países Baixos, será que os devíamos chamar baixinhos? —, quando vieram ao Maranhão, já tinham começado, lá, a conquistar o mar, construindo os pôlders. Estes aterros com diques, que eles não inventaram, mas aperfeiçoaram de tal maneira que ninguém pode pensar neles sem pensar nos neerlandeses — assim são chamados, oficialmente, os holandeses —, constituem mais de metade da superfície terrestre da Holanda. Nos últimos anos, preocupados com as mudanças climáticas, eles têm preparado novas medidas, que vão da elevação dos diques até a mecanismos de controle muitíssimos engenhosos e serviços de monitoramento avançados. Com isso, andar ou navegar por Amsterdam é coisa que se pode fazer sem medo de se molhar com água vinda do mar — quando cai das nuvens não tem jeito, molha como aqui.
Fico pensando se eles não escolheram Recife e São Luís já de olho em diques que poderiam fazer. Mas no caso daqui talvez a razão seja outra, a profundidade dos canais da Baía de São Marcos, equivalente à de Rotterdam. É claro que, naquela época, não se podia nem sonhar com os mega navios que fazem fila para entrar no porto do Itaqui.
Quando fizemos a Barragem do Bacanga, preparamos tudo para fazer o fechamento na maré seca, o contraponto da maré alta, portanto a mais baixa das marés. A subida da maré foi mais rápida que nossos caminhões de pedras, e de repente um pequeno trator começou a ser cercado pelas águas. Como não tínhamos tempo de o salvar sem perder o trabalho, mandei que o deixassem lá, e ele é hoje parte do dique de fechamento
Nossas marés, as maiores do Brasil, estão longe das maiores do mundo, que se aproximam dos 20 metros. A mais famosa não é a maior, mas a do Monte Saint-Michel, segundo ponto turístico da França, onde se diz que ela sobe como um cavalo a galope. Bem, ali São Miguel Arcanjo jogou o Diabo no Inferno, é natural que a natureza se agite. Perto, em Saint Malo, foi feita a grande usina elétrica de La Rance, que utiliza a força das marés.
Não sei é por que a Prefeitura de São Luís colocou mais quatro quadriciclos, em vez de botes, para ajudar a prevenir que algum descuidado se afogue em terra, pois o risco é de ser pego desprevenido pela chegada da maré de sizígia do equinócio de setembro, que será na segunda-feira.
Bom banho!