Em outra sexta-feira tive a oportunidade de escrever nesta coluna sem qualquer preocupação ou dúvida de que o setor do agronegócio é o mais desenvolvido do nosso país, responsável pelo aumento do nosso PIB, representando o que há de mais moderno no mundo em matéria de pesquisa agrícola e agropecuária, em que o Brasil, com a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, ocupa uma posição de excelência.
Hoje também não tenho dúvida de afirmar que o maior de todos os nossos atrasos decorre da defasagem em ciência e tecnologia. Muitos desses desencontros foram resultado de políticas inadequadas, especialmente da falta de incentivos à aplicação tecnológica da ciência digital, que constitui a materialização prática da ciência.
Agora, com a realização da COP30 — 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima —, em Belém do Pará, ficam mais evidentes as descobertas da ciência sobre as mudanças do regime climático, com o alerta de que o aumento do efeito estufa e da temperatura da Terra estão caminhando para um ponto de não retorno. As enchentes avassaladoras apontam que o desastre ecológico que ameaça nosso planeta já está “mostrando suas unhas”. Enquanto isso se processa, aparecem alguns negacionistas que só nos sugerem como exemplo os pessimistas que Moisés mandou espiar a Terra de Canaã, que com seus relatos atrasaram em 40 anos a travessia do deserto.
Os Estados Unidos, que foram exemplo nestes últimos séculos da construção do regime das liberdades, objetivamente relacionadas nas dez primeiras emendas à Constituição americana, inspiradas por Thomas Jefferson, agora assumem uma posição na qual a democracia está sob ameaça no mundo inteiro. Essa mudança iniciou com o desaparecimento do maior exemplo democrático para dar lugar aos fatos dolorosos que ocorreram em Washington antes da posse de Joe Biden, contabilizando cinco mortos e dezenas de feridos no ataque ao Capitólio, exemplo seguido pelo Brasil em 8 de janeiro de 2023.
Mas não ficou aí. Agora reeleito, o Presidente americano iniciou a desestabilização da economia mundial com uma política de tarifas e como sempre enveredando pela negação da ciência ao não aceitar que o mundo marcha aceleradamente para uma tragédia ambiental. Trump não só não acredita como procura encontrar motivações demagógicas para as verdades comprovadamente frutos de descobertas científicas.
Felizmente os números deste ano parecem apontar para uma inflexão nessa tragédia. Na realidade, tenho recebido da comunidade científica — bastante prestigiada por mim durante o tempo em que fui presidente da República — resultado do trabalho que lá atrás se iniciou: a descoberta do enriquecimento do urânio na fábrica de Aramar, desenvolvido pela nossa Marinha, em que asseguramos a destinação da energia nuclear para fins pacíficos, com aplicação na saúde, na produção de energia etc.
Com ambições de modernidade, tivemos então feitos marcantes na história científica do Brasil: criei o Ministério da Ciência e Tecnologia, dando aos nossos cientistas recurso e prestígio. Para se ter uma ideia, o CNPq concedeu mais bolsas em meu governo do que em todos os seus 34 anos anteriores. Com isso tivemos grandes marcos científicos, como o primeiro reator de pesquisas nucleares, o domínio do enriquecimento do urânio, o primeiro acelerador linear de elétrons, o centro de construção e o primeiro laboratório de testes de satélites, o Laboratório Nacional de Luz Sincronton, o sistema de monitoramento ambiental por satélites, o desenvolvimento de novos materiais, como fibras óticas e cerâmicas de alta resistência, avanços em radar, lasers e tantas outras coisas.
Acreditava eu — e ainda penso da mesma forma — que o mundo do futuro não será de países grandes ou pequenos, mas daqueles que dominarem tecnologias e saberes científicos. A ciência e a tecnologia são tão importantes no processo produtivo contemporâneo quanto (ou até mais do que) os recursos naturais, os equipamentos industriais ou a própria mão-de-obra.
Assim o apoio à comunidade científica deve estar na mesa dos planejadores tanto quanto a infraestrutura e a política econômica. O Brasil, como o grande país que é, não pode jamais ficar no fim da fila dos saberes científicos. Devemos aspirar não somente a participar da inteligência mundial como também a fomentar o desenvolvimento de cérebros que nos assegurem não somente prêmio Nobel, mas uma equipe capaz de caminhar assim como na agricultura, na pecuária, no desenvolvimento de vacinas, em todos os ramos das inovações tecnológicas.
O Brasil não pode abdicar de ser o país do presente e do futuro.