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Barril de pólvora

Barril de pólvora

Coube à região do Oriente Médio, pela sua posição geográfica, transformar-se, ao longo da História, em um ponto de fricção. Ali nasceram as três grandes religiões monoteístas que hoje disputam o mundo. 

A existência de deuses faz parte, segundo os antropólogos, das ideias inatas do homem. Fator de identidade étnica, tornou-se instrumento de domínio.  Ao contrário da multidão de crenças em deuses múltiplos, que tinham facilidade de admitir outros deuses, como faziam os romanos na sua conquista imperial, o monoteísmo tem uma visão excludente, que facilmente degenera no uso da força física para impor seu deus. 

Reunidos em cidades e logo em regiões, os povos do Crescente Fértil estabeleceram centros de poder em torno da articulação exército, grupos dirigentes, religião. Os monoteísmos, dentro deste cenário, se destacavam por serem teocráticos. A força de sua unidade era a defesa do seu deus, julgando os outros deuses como falsos e dando-lhes designações de natureza injuriosa, como a de profetas “pés de barro” — aos que cultuavam profetas —, numa acepção de que a sua pregação era baseada em deuses de barro. 

Se as guerras religiosas fizeram, portanto, parte da formação inicial de todos os povos, nunca tiveram a dimensão das disputas de Judeus, Cristãos e Muçulmanos. 

No Oriente Médio surgiria outro ponto de atrito, o maior dos tempos modernos, que é a máquina do mundo atual, o petróleo, com metade das reservas do mundo. Assim a região transformou-se numa área estratégica com influência no domínio do poder mundial. 

Nos últimos anos ali foi cometido um dos maiores erros estratégicos já verificados ao longo da História: a invasão do Iraque. 

A luta entre judeus e mulçumanos é histórica, remontando ao século VII, com os sucessores de Maomé; hoje, na civilização ocidental, podemos fazer uma revisão da decisão do Bush (pai) de recuperar o Kuwait, muito criticada internamente e reabilitada por Bush (filho), que invadiu o Iraque argumentando que Saddam Hussein “quis matar papai”. Com isso desestabilizou a frágil paz existente em todo o Oriente Médio. Nixon, que não é autor muito autorizado a ser citado, chegara mesmo a profetizar que a Terceira Guerra Mundial começaria ali, que seria o barril de pólvora da Humanidade. 

Eclodiram, então, guerras em toda a região, espalhou-se o medo e vive-se sob ameaça de guerra numa escalada que já era do passado — agora com a disputa territorial Ucrânia-Rússia. 

É nesse contexto que acontece a cruel invasão de Israel pelo Hamas, cometendo-se ali os crimes mais hediondos, como as mortes de crianças, como nas guerras primitivas relatadas na Bíblia. Só que naquele tempo a motivação era religiosa e, agora, política, de poder, envolvendo o mundo inteiro. Embora tendo como ponto de partida a cruel situação que vive o povo palestino, seu objetivo imediato é afastar ainda mais a possibilidade de paz, inviabilizando o acordo Israel-Arábia Saudita. 

A posição do Governo brasileiro é correta: a solução é a proposta pela ONU em 1947: a criação de dois Estados, o de Israel e o da Palestina. 

Os atos terroristas cometidos pelo Hamas jamais podem ter qualquer justificativa. Israel tem todo o direito de se defender, mas não pode fazer isso praticando também o terrorismo: a dosagem da defesa não pode ser a do “olho por olho, dente por dente”.   

Crédito da imagem: Agência Reuters

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