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A Palavra do Sarney

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Um dia singular

Antônio Carlos Magalhães •Senador pela Bahia, Presidente do Congresso Nacional, Governador da Bahia Hoje é um dia singular na democracia brasileira. Costumo repetir que todos os movimentos, desde trinta para cá, até mesmo antes da República e até mesmo da Independência, todos esses movimentos, civis ou militares, foram feitos com o apoio da opinião pública nacional. Sem o apoio da opinião pública nacional, jamais teriam acontecido! Sem o apoio da opinião pública nacional, Tancredo Neves não teria sido Presidente da República! Hoje, aqui, homenageamos dois grandes brasileiros de uma só Continue a ler

Convite à reflexão

Renan Calheiros •Senador por Alagoas, quatro vezes Presidente do Congresso Nacional Este não é só um momento de celebração, mas é também um convite à reflexão. No dia 15 de março de 1985, o Congresso Nacional se reuniu para encerrar uma etapa crucial na história política do País. Com a posse do primeiro presidente civil, depois de 1961, demos início ao longo e vital processo de restauração da democracia, ceifada por conflitos e crises de natureza político-militar que, lamentavelmente, entristeceram toda a América Latina. Não era a primeira vez que, Continue a ler

Minha São Luís dos franceses

São Luís tem nome de Rei, Rei Santo e povo sem pecados. Pensava-se que os franceses só tinham passado aqui três anos: da chegada (1612) de La Ravardière e seus frades do convento de Saint Honoré até 1614. Mas a memória dos arquivos franceses mostrou que eles ficaram aqui, não 3, mas 8 anos!… Quando chegou a Guaxenduba, Jerônimo de Albuquerque, que com Diogo de Campos Moreno derrotou os franceses, avisou a seu Capitão: — “Amanhã terei índios do Maranhão comigo”. E apostou dois pares de meia de seda… Teve, Continue a ler

O Rosa e a Amazônia

Volto ao tema da moda — que, para a tristeza de todos nós, continua sendo a destruição do meio ambiente —, com as lembranças e recordações de quem viveu um tempo parecido com este, o Brasil como o grande vilão mundial, que toca fogo na Amazônia e mata os índios.  Já disse como reagi a essa campanha, que nada tinha de verdadeira. Reconhecemos a nossa responsabilidade em relação ao desprezo dos governos brasileiros, e aqui não abro exceção, e a desídia em não encarar com a gravidade necessária a preservação Continue a ler

Está quem manda

Nos meus primeiros meses como Presidente da República, tive que aprender a rotina das solenidades militares, sempre muito bem organizadas, com fórmulas estabelecidas há décadas e impecável respeito a horário e cerimonial. Justamente neste aprendizado, cometi uma das maiores gafes ao ser recebido no Corpo de Fuzileiros Navais de Brasília, no Dia da Marinha.  Diante da tropa formada estava o Ministro da Marinha, Almirante Henrique Saboia, um dos melhores homens públicos que conheci, grande profissional, mas sobretudo personalidade de honradez, cultura e sensatez. Devo-lhe grande ajuda de conselhos, recomendações e Continue a ler

Eleições Municipais

Na minha longa vida política testemunhei muitas mudanças. Mudanças de todo tipo: comecei com a votação em cédulas impressas com o nome do candidato e distribuídas entre os eleitores, que as levavam à mesa eleitoral, onde recebiam um envelope para colocar o voto. Era uma guerra entre cabos eleitorais para formar chapas, substituí-las por outras, o que motivava brigas e pancadarias entre candidatos e entre seus seguidores. João Francisco Lisboa recuou um pouco mais e escreveu largamente sobre eleições na Antiguidade, desde o “palmômetro” até o “brigômetro”, as eleições a cacete.  Vi mudanças de legislação eleitoral às carradas, costumes parlamentares, maneira de escolha Continue a ler

Alegrias e Tristezas

Fui matar saudades na Praia Grande, rever o Centro Histórico, cumprir alguns deveres e realizar desejos. O maior deles: visitar a Casa Josué Montello, que preserva o acervo de meu grande amigo, orgulho de nossa terra. Basta lembrar o maior romance sobre a escravidão no Brasil: “Os Tambores de São Luís”, em que ele, por amor, incluiu no título limitativo o nome da cidade em que nasceu. A França bem entendeu isso e, na versão francesa, usou apenas “Les tambours noirs”. Fiquei feliz. Estive várias vezes com Josué Montello na Continue a ler

A Estrada das Onças

A Estrada de Ferro Norte-Sul, pela qual paguei um alto preço e que foi combatida fortemente por aqueles que consideram a política acima do interesse público, está em fase de conclusão. Se tivessem permitido que a fizesse durante o meu governo, o Brasil seria outro hoje.  Sempre defendi o modelo ferroviário e por isso recebi um boné de maquinista da Associação dos Ferroviários, que até hoje guardo com o maior carinho. As estradas de ferro foram o transporte do passado e agora ressurgem como o transporte do futuro, com um Continue a ler

António Alçada Baptista

António Alçada Baptista •Escritor e editor português. Por ocasião do lançamento da edição portuguesa de "Norte das Águas", Edições Livros do Brasil, 1980.     Sobre Norte das Águas Recriação do Espaço e do Tempo Regionais Escrever sobre um livro de José Sarney impõe que se estabeleça uma separação clara entre aquele que foi deputado federal, governador do Maranhão, senador e presidente da Arena e que, atualmente, lidera o Partido Democrático e Social, e o escritor José Sarney, membro da Academia Brasileira de Letras. Porque a tentação existe para o Continue a ler

Ivan Junqueira

Ivan Junqueira •Poeta e jornalista. Foi da Academia Brasileira de Letras.   Sobre Saudades Mortas Os passos lentos da falecida Tia Zica no quarto assombrado por mil cavalos de vento. O caixão do avô de fraque, colete e botina, preparado para uma festa de cinzas aonde se chega e de onde não se volta. A amarga madrugada do recordar brilha e aparece entre tipos datilográficos e aranhas, e o teclado de santa alucinação produz linhas comoventes, cortantes, singelas. A flor da memória desabrocha nos censários remotos da infância no Maranhão, Continue a ler

José Chagas

José Chagas •Poeta e jornalista. Foi da Academia Maranhense de Letras. Prefácio à 2a edição de "A Canção Inicial", Edições AML, 2001.   Sobre A Canção Inicial Um intelectual em três dimensões José Sarney — o poeta — fez parte da geração de jovens que, em fins da década de 1940 e início da de cinquenta promoveu, por assim dizer, a ressurreição de nossa vida literária. Os poetas da geração anterior viram-se realizados, consagrados pelo público, mas já estavam certos de que uma etapa da literatura maranhense se fechava com Continue a ler

Éris Antônio Oliveira

Éris Antônio Oliveira •Doutor em Letras. Crítico literário e professor no Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Goiás. Prefácio a "Bibliografia e Fortuna Crítica de José Sarney", Geia, 2019.   Prefácio a Bibliografia e Fortuna Crítica de José Sarney  Li “Saraminda” e quanto amei esse belo livro. Depois dos pescadores do Nordeste, José Sarney faz reviver os faiscadores de ouro de Caiena e do Amapá com a mesma sensibilidade aguda à realidade etnográfica permeada por um poderoso lirismo.   Claude Lévi-Strauss Como resultado de um amplo e consistente projeto, Continue a ler

João Gaspar Simões

João Gaspar Simões •Escritor português, crítico literário e jornalista, responsável pelas primeiras publicações de Fernando Pessoa. Prefácio da edição portuguesa de Os Maribondos de Fogo, Bertrand, 1986   Sobre Os Maribondos de Fogo José Sarney e as fontes da poesia brasileira Pensou o nosso Almeida Garret que indo buscar no romanceiro nacional os laços que atavam a poesia portuguesa do seu tempo, princípios do século XIX, poesia desatada da tradição medieval por obra e graça dos artífices das Arcádias e de outras maneiras poéticas mais ou menos importadas, recuperaria o Continue a ler

Itaqui porto do mundo

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ, reguladora dos portos, em audiência pública realizada em São Luís, com a presença de seu Diretor Geral, Mário Povia, anunciou a licitação de mais quatro áreas no Itaqui, para importar e armazenar combustível, uma das mercadorias que alimentarão o frete de volta da Norte-Sul. Atualmente o combustível de tratores e máquinas da região Centro-Oeste e da região do Matopiba, principais responsáveis pelas centenas de milhões de toneladas de soja que exportamos, é transportado por via rodoviária, cara, ou das refinarias do Sudeste Continue a ler

Congresso, base da democracia

Instituto dos Advogados do Brasil, 14 de julho de 1976 Considero o objetivo desse programa conjunto da nossa Câmara Alta e do Instituto dos Advogados Brasileiros, ao comemorar os 150 anos do Senado Federal, como uma tomada de posição crítica do Legislativo, quer sob o ângulo histórico, quer sob os valores imperecíveis da instituição do Congresso, hoje alvo de profundas reflexões negativas e contingentemente forçado a acomodações. A visão que procurarei testemunhar, nesta palestra, será tanto quanto possível uma visão imparcial e não partidária. Acredito que uma das questões básicas Continue a ler

Saudação ao Supremo Tribunal Federal por ocasião de seu Centenário

Senado Federal, Brasília, DF, 18 de abril de 1991 É com uma grande emoção que retorno à tribuna do Parlamento. A paixão da política, do bem comum, é mais forte do que a paixão pela vida. Volto hoje para cumprir esta missão tão honrosa de falar em nome do Senado Federal para saudar os cem anos do Supremo Tribunal Federal. A História do Supremo Tribunal Federal é a História da República. Elas se interligam e se integram nas grandezas e vicissitudes, nos dias de glória e nos instantes de sombra. Continue a ler

Gratidão

Senado Federal,  Brasília, DF, 18 de dezembro de 2014 Último discurso parlamentar. Sr. Presidente, Mozarildo Cavalcanti, que tenho grande prazer de ver presidindo esta sessão; Senador Anibal Diniz, a quem quero agradecer também a gentileza de ter me cedido esta precedência; Srªs e Srs. Senadores; ouvintes da TV Senado; eu quero dizer que esta é a última vez que ocupo a tribuna parlamentar, que frequentei desde 1955. Eu sou meio supersticioso e avesso às despedidas e não gosto de dizer adeus, mas não posso fugir ao dever e sentimento da Continue a ler

Raúl Alfonsín

Funerais do Presidente Raúl Alfonsín, Buenos Aires, Argentina, 1o de abril de 2009 Volto à Argentina, este país pelo qual tenho tanta admiração, carinho e apreço, de que tanto gosto, pela sua história, pela sua tradição e pelo seu povo. Desta vez, num momento triste, em que cumpro deveres de Estado, mas muito mais do que isto, os deveres da amizade. Aqui estou como representante pessoal do Presidente Lula, chefiando a delegação do Brasil integrada também por Samuel Guimarães, Ministro interino das Relações Exteriores, e por Mauro Vieira, Embaixador do Continue a ler

A futura Constituição do Brasil

Cadeia nacional de rádio e televisão, Palácio da Alvorada, 26 de julho de 1988 Mais uma vez venho dividir responsabilidades com a Nação. Venho falar sobre a futura Constituição do Brasil. É este o momento exato, porque hoje se iniciou o processo de votação do segundo turno. O projeto está, agora, liberto das pressões e das circunstâncias. Pode ser repensado e pode ser aprimorado. Este pensamento também é de todos os Constituintes, pois eles apresentaram 1.800 emendas, o que mostra que não estão satisfeitos com a redação atual do projeto. Continue a ler

As novas mídias e a crise do modelo político

Conferência de Bilbao, 6 de fevereiro de 2003 Nossa geração viveu entre a magia e a realidade. Se passaram e se criaram coisas com que nunca sonhamos. As descobertas científicas colocaram em nossas mãos milagres com que nunca sonhamos. Podemos, numa tela vazia em nossa frente, por artes de Deus ou do Diabo, ver o que se passa em todos os lugares do mundo no instante mesmo em que estão acontecendo. Com uma pequena caixinha que cabe na palma de minha mão, posso localizar a qualquer pessoa em qualquer lugar Continue a ler

O tempo de crise

Senado Federal, Brasília, DF, 16 de agosto de 2005 Rui Barbosa certa vez foi cobrado por sua ausência na tribuna, e ele teve oportunidade de dizer, justificando motivos de doença: “Estou ausente da tribuna, mas não estou ausente do tema.” Venho hoje abordar tema que envolve todo o País e fazer algumas reflexões sobre o momento político nacional. A História não se faz sem crises, ela é construída de uma longa sedimentação da vida, e o destino das nações se faz em grande parte pelo processo político. A história de Continue a ler

Livros no Maranhão

Com minha compulsão pela leitura, chega-me às mãos um pequeno livro sobre um tema incomum e de pouco interesse literário: a tradução. O livro é de duas professoras de São Paulo, Damiana Rosa de Oliveira e Andreia de Jesus Cintas Vazquez. São profissionais e devotas na arte de traduzir. O livro é constituído de dez pequenos capítulos, ricos de erudição, de lendas sobre a origem das línguas e da história dos primitivos tradutores.  Coincidentemente surge no Maranhão um livro sobre o tema que foge à abordagem histórica tradicional e envereda Continue a ler

Deputado, o amigo

Afinal a Reforma da Previdência passou em primeiro turno. Primeira etapa vencida. Mas nos deixou muitos exemplos. O primeiro deles a total falência dos partidos. Foi preciso o Presidente Rodrigo Maia, que demonstrou uma extraordinária competência para construir uma engenharia política para viabilizá-la, ocupar o lugar do Executivo e articular uma maioria extraordinária dentro da Câmara, usando das práticas que fazem do regime democrático o melhor — na expressão de Churchill, “o pior do mundo, fora todos os outros”. Quais são elas? O diálogo, a negociação, a articulação entre os Continue a ler

A política é destino

Eu tenho afirmado ao longo da minha vida que nasci com uma total incapacidade de ter ódio e que rejeito a execrável teoria do Lenine de que devemos inverter na política o enunciado de Clausewitz de que “a guerra é a continuação da política por outros meios”.  Segundo essa tese, o adversário teria que ser tratado como inimigo, a quem não se deve apenas vencer, mas destruir, matar, aniquilar. Não se estaria mais na disputa das ideias e sim em um campo de batalha.  Para isso Lenine defendia o método Continue a ler

O Real e o Cruzado

Celebramos no dia 1º de julho os 25 anos do Real, a moeda criada pelo bem-sucedido plano para baixar a inflação brasileira a níveis que permitem aos agentes econômicos a previsibilidade orçamentária, pilar da economia de mercado. Quando, em 1985, assumi a presidência da República, herdei uma forte inflação, provocada, em grande parte, pela combinação de preços do petróleo, descontrole da dívida externa e conjuntura das taxas internacionais Libore prime rate— que se mantiveram muito altas no meu governo, chegando a 9,3 e 10,9 (naqueles anos, descontada a inflação, as taxas chegaram Continue a ler

Junho, festas e fogos

São Luís é uma terra que bem merece ser chamada de Ilha do Amor. Melhor seria se fosse do Amor Demais. Falo do amor a sua história e a sua gente, a seu espírito, a sua beleza. Para parodiar Hemingway, que dizia que “Paris é uma Festa”, eu diria que São Luís é um amor. É para mim uma terra de lembranças que estão associadas a minha mocidade/juventude, já que são uma mesma coisa. Mocidade, o tempo da vida, juventude, a vida do tempo em que descobrimos a alma, o Continue a ler

Os mortos-vivos

Jorge Amado me contou que, depois de longo exílio, reencontrou um dos maiores poetas de língua espanhola, Pablo Neruda, e perguntou-lhe por um amigo comum, que tinha convivido com eles em Praga, onde nascera sua filha Paloma Amado. Neruda respondeu-lhe: “Jorge, não me perguntes por ninguém. Somos sobreviventes: todos já morreram.” Já o meu mestre e companheiro de trabalho na redação de O Imparcial, Dr. Fernando Perdigão, quando eu era moço,  disse-me: “Sarney, a gente só sabe que está velho quando chegar ao Cemitério do Gavião, olhar para os túmulos e dizer: Continue a ler

Um futuro que chegou

Desde moço tive a cabeça no futuro. Sempre queria me atualizar, olhar para frente e não ter lanterna na popa. Assim, começando a ter gosto pela literatura, não me conformava com um Maranhão mergulhado no parnasianismo e aonde não chegara a Semana da Arte Moderna de 22. Fundamos um grupo de escritores e pintores. Começamos a fazer poesia contestatária das formas antigas e organizamos o Salão de Dezembro no Teatro Arthur Azevedo, chocando com as novas formas. Foi aí que chegou de Portugal Bandeira Tribuzzi, como ele mesmo dizia, “trazendo Continue a ler

Alcântara e o babaçu

O Maranhão teve vários sonhos de salvação. Na Colônia e no Império foram os do algodão e do açúcar. Vivemos com um e outro momentos de euforia. Uns mais e outros menos. O que mais nos realizou foi o do algodão, assim mesmo porque, quando os Estados Unidos se separaram da Inglaterra, esta perdeu o seu grande fornecedor de algodão — era o início da revolução industrial e a indústria têxtil era o carro-chefe da economia inglesa. A esse tempo devemos a bela cidade de São Luís, construída pela riqueza Continue a ler

São Luís, os velhos ainda sonham

Nossa cidade de São Luís está cada vez mais decadente. Sem empregos e sem perspectivas de futuro. Já falei aqui que é preciso pensar na cidade. Hoje, o turismo é uma das indústrias mais dinâmicas no mundo. Portugal hoje, como o resto da Europa, tem o turismo como uma de suas principais fontes de renda. O Nordeste brasileiro já está usufruindo de seus benefícios. Fortaleza, por exemplo, é um destino muito procurado pelos europeus. Voos turísticos internacionais chegam hoje a muitos destinos do Brasil. Precisamos planejar e montar a logística Continue a ler