É com grande emoção que recebo o título de Doutor Honoris Causa de uma Casa de Educação e Cultura como o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa – IDP. Hoje essa emoção é redobrada por ser uma homenagem feita a um velho de 93 anos, que está afastado da política e que muito se esforça para lembrar as aulas da humilde Faculdade de Direito do Maranhão, humilíssima se comparada com as figuras magistrais que criaram e mantêm viva essa extraordinária instituição de Direito que é o Instituto Brasileiro de Continue a ler
Quero agradecer ao Presidente Merval Pereira — que com tanta eficiência vemos dirigir esta Casa — o convite que me fez para ser o orador desta sessão tão significativa para todos nós e para o Brasil, porque mostra a perenidade desta Instituição que há 125 anos é a guardiã da língua e dos nossos valores espirituais, construída pelo gigantesco patrimônio cultural das obras dos que por aqui passaram e dos que aqui estão. Quando tomei posse nesta Casa em 1980, sucedendo ao grande escritor e político José Américo de Almeida, Continue a ler
Palácio do Planalto, 4 de junho de 1986 Minhas primeiras palavras são da gratidão pelo brilho que a presença de todos que aqui estão confere a esta solenidade. Aqui estão presentes as figuras mais expressivas da intelectualidade do País, das Letras, das artes, do empresariado. E estamos juntos para encaminhar ao Congresso Nacional o projeto de lei que concede incentivos fiscais para a arte e a cultura no Brasil. Este é um projeto que me toca especialmente. Não apenas como Presidente, não como escritor, mas como brasileiro. Há 11 Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 14 de março de 1985 Deverei amanhã, na forma da Constituição da República, assumir o cargo de Vice-Presidente. Assim, desejo marcar meu último dia nesta Casa na coerência de um gesto que norteou sempre a minha vida de homem público, que foi a de um político preocupado com as coisas da cultura. Sou avesso à despedidas e por isso, não a farei, formalmente, perante o Senado Federal. Quero, apenas, que fique nos Anais o Projeto que encaminho à Mesa, para deliberação do Senado, que renova Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 20 de agosto de 1975 “O Momento Crítico da Humanidade” O momento dramático em que vive o homem contemporâneo impõe uma tomada de posição a todos os que, em qualquer parte do mundo, detêm alguma parcela de responsabilidade pelo destino da coletividade. A hora crítica que atravessamos é oportuna para uma participação efetiva nas cogitações sobre o futuro da humanidade. Sem o pessimismo das cassandras, que preconizam a iminência do Apocalipse irrecorrível; sem os erros de avaliação de futurólogos, que se prendem no tecnicismo das previsões Continue a ler
Colégio do México, Cidade do México, México, 18 de agosto de 1987 Templo maior da inteligência latino-americana, com quase meio século de existência, este colégio continua sendo único e exemplar como centro de pesquisa e como Assembleia de grandes professores em humanidades e ciências sociais. Fundado sob a dupla égide da história e do humanismo, graças ao fecundo trabalho de Cossío Villegas e Alfonso Reyes, soube sobreviver a todas as transformações por que passou a estrutura universitária em nosso continente. Seu estado e vocação — a primazia da pesquisa conduzida Continue a ler
Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal, 7 de maio de 1986 Chego a esta Universidade carregado de lembranças permanentes, não daquelas que a vida vivida acumula em nossa memória, sedimentadas pela experiência, e, sim, das que nos vêm dos livros, das conversas, das crônicas de jornal, com transunto das vivências alheias. Parece-me que já andei por estes corredores, por estes pátios, por estas salas de aula, por estes salões capitulares, com a tradicional capa e meus compêndios, e recitei, também, os meus poemas. Não precisei ler o velho Teófilo Braga para Continue a ler
Academia das Ciências de Lisboa, Lisboa, Portugal, 5 de maio de 1986 Confesso a minha vaidade em pertencer à Academia das Ciências de Lisboa, irmã mais velha de minha Academia Brasileira de Letras. Agradeço sensibilizado as palavras de saudação com que me distinguiu Vossa Excelência, Senhor Professor Jacinto Nunes, nosso presidente, cujo renome internacional como economista e cujas qualidades de homem devotado a esta Academia e aos ideais emprestam um brilho especial a esta cerimônia para mim inesquecível. Minha gratidão pelas palavras carregadas de magnânima benevolência do acadêmico José Hermano Saraiva, Continue a ler
Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, RJ, 6 de novembro de 1980 Elogio de José Américo de Almeida “Profeta das ruas, mago do sertão” Casa de Machado de Assis, símbolo dos nossos valores espirituais. À sombra dos meus deuses o sortilégio dos meus caminhos me fez chegar. Nada mais alto, aqui é o infinito. O deus primeiro, o Deus da minha fé, da minha submissão à sua voz semeadora dos destinos, que me guardou nas dúvidas, encheu de certezas os meus clarões de perplexidades, estendeu-me a mão firme de Continue a ler
Camões Center for Portuguese Studies, Columbia University, Nova York, Estados Unidos da América, 20 de maio de 1991 Agradeço muito ao Professor Kenneth Maxwell a oportunidade e o convite para estarmos juntos no Camões Center. Esta instituição conquistou a posição de um centro de referência na comunidade de língua portuguesa para todos aqueles que vivem uma permanente reflexão sobre a nossa história, arte e literatura. A Columbia University tem dado uma contribuição extraordinária para nossa cultura. Ela nos fala de Gilberto Freire, aqui estudante, tendo como orientador o grande antropólogo Continue a ler
Palácio dos Leões, São Luís, MA, 1o de novembro de 1989 Instalação do Encontro dos Chefes de Estado dos Países de Língua Oficial Portuguesa É com grande satisfação que recebo vossas excelências e suas ilustres comitivas em São Luís do Maranhão para esta reunião em que, juntos, procuramos unir ainda mais nossos laços comuns da história, das nossas raízes, de nossa inseparável amizade. Esta cidade é um símbolo da era colonial, de nossas lutas da conquista, de nossas vicissitudes, do arrojo e da tenacidade de nossos antepassados, marcadas pela mesma Continue a ler
Nações Unidas, Nova Iorque, EUA, 25 de setembro de 1989 Abertura da 44a Assembleia Geral da ONU Senhor Presidente, Senhores Delegados, Apresento a Vossa Excelência meus cumprimentos pela sua eleição. Temos certeza de que sua experiência assegura a nossos trabalhos um caminho firme e construtivo. Estendo minhas congratulações a seu ilustre antecessor. Registro, mais uma vez, o reconhecimento do Brasil ao Secretário-Geral Perez de Cuéllar. Quero, ao iniciar este discurso, prestar a minha homenagem e reverência ao povo da Colômbia e ao Presidente Virgílio Barco, pelo exemplo de coragem cívica Continue a ler
Buenos Aires, Argentina, 29 de novembro de 1988 Hoje é um dia marcante na história do nosso continente. Um passo fundamental, que será lembrado como uma mudança extraordinária, em busca da independência econômica da América Latina e como uma prova de grande maturidade política. O Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, que acabamos de assinar, incorpora-se à história do Brasil e da Argentina. É um marco. Representa uma etapa decisiva em nosso destino comum. Nossa vontade política foi capaz de superar obstáculos, vencer preconceitos, abrir a grande estrada do Continue a ler
Nações Unidas, Nova Iorque, EUA, 7 de junho de 1988 Abertura da III Sessão Especial da Assembleia Geral da Onu sobre Desarmamento Senhor Presidente, Queira Vossa Excelência aceitar minhas congratulações por sua eleição para a presidência desta sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas dedicada ao desarmamento, missão que, estou certo, Vossa Excelência saberá desempenhar com a mesma habilidade que demonstrou ao conduzir os trabalhos da quadragésima segunda sessão ordinária da Assembleia. É com o sentimento da História que ocupo mais uma vez a tribuna da Organização das Nações Unidas, Continue a ler
Plenário das Nações Unidas, Nova Iorque, EUA, 23 de setembro de 1985 Abertura dos Debates da Assembleia Geral da ONU Esta tribuna impõe respeito e dignidade. É a mais alta na comunidade das nações, onde grandes e pequenos ficam menores, porque maior é a carga da história do gênero humano exercida pela tarefa que é o barro do seu trabalho — a paz —, pelos problemas que a desafiam, pelo esforço de transformar discordâncias em solidariedade. Há quarenta anos tem o meu País, o Brasil, o privilégio de abrir o Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 19 de agosto de 1976 Bicentenário da Independência dos Estados Unidos da América Está em nossas mãos recomeçar o mundo”— escreveu um inglês de Norfolk, antigo fabricante de peças de navio, e cuja alma era um demônio possuído pela paixão da liberdade. Emigrante na América, esta América de solidões e florestas do século XVIII, aí viria incendiar corações, popularizando o sonho da Independência. Esse homem se chamava Thomas Payne, temerário, audaz, panfletário, enfim, o tipo clássico de um ativista revolucionário, um exaltado. Seu livro tinha um Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 2 de março de 2006 Ocupo a tribuna nesta tarde para recordar que no dia 28 de fevereiro de 1986, portanto há 20 anos, foi editado o Plano Cruzado, que considero uma das mais importantes e corajosas medidas tomadas no Brasil para proteger os pobres e o povo brasileiro. Quando assumi a Presidência, a nossa economia estava numa situação extremamente difícil. Recebemos um deficit de 60% do nosso orçamento. Hoje, fala-se num deficit de 4% e até de superavit. Pode-se, então, avaliar o que era. A Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 1o de fevereiro de 1995 Senhoras e Senhores Senadores, estou aqui com os mesmos sonhos com que cheguei pela primeira vez à Câmara dos Deputados em 1955. Tendo ocupado todos os cargos públicos do País, jamais, depois de trinta anos de mandatos legislativos, aceitei participar da direção dos nossos trabalhos. Peço-lhes licença para invocar, como aval do compromisso que assumo com a Casa, a legitimidade que tenho para presidi-la. Deputado Federal três vezes, três vezes Senador da República, Vice-Presidente e Presidente da República, estou assumindo esta Continue a ler
Congresso Nacional, Brasília, DF, 15 de fevereiro de 1990 Senhores Congressistas, Envio ao Congresso Nacional a última mensagem do meu mandato. Renovo, mais uma vez, minha homenagem a esta instituição, coração e alma do sistema democrático. Lanço os olhos no tempo. Recordo a manhã de 15 de março de 1985. Com a doença, e depois a morte de Tancredo Neves, coube-me dirigir a Nação no seu período mais difícil, porque mais cheio de cobranças políticas, em toda a nossa História. Somavam-se esperanças e dificuldades. As liberdades, até então represadas, explodiam Continue a ler
Cadeia nacional de rádio e televisão, 14 de novembro de 1989 Brasileiras e brasileiros, Venho conversar com vocês, venho falar das eleições e da liberdade. Depois de 29 anos, amanhã, no dia 15, 83 milhões de eleitores irão às urnas para eleger o Presidente da República em eleições diretas. Temos o orgulho de proclamar que nós hoje somos a terceira grande democracia do mundo. Correspondem a meu governo grandes conquistas institucionais. Os partidos deixaram de ser clandestinos. Acabamos com o preconceito ideológico. Todos os segmentos da sociedade ocupam seus espaços. Continue a ler
Cadeia nacional de rádio e televisão, 31 de janeiro de 1987 Brasileiras e brasileiros, boa noite. Estamos chegando à grande data de instalação da Assembleia Nacional Constituinte, que será um marco histórico no avanço democrático do Brasil. Nossos antepassados tentaram algumas vezes estabelecer uma Constituição duradoura. Assim foi no Império, assim também na República. Estas Constituições não alcançaram esse ideal de permanência e foram incapazes de sobreviver ao tempo, de arbitrar crises, de oferecer caminhos. A história do Brasil, a difícil história do Brasil, está cheia de frustrações institucionais. Daí Continue a ler
Palácio do Planalto, Brasília, 10 de outubro de 1985 Quando o Presidente Tancredo Neves, no início deste ano, esteve com o Papa João Paulo II, ouviu dele apenas um pedido: a realização da reforma agrária no Brasil. Se este desejo estava no coração de Sua Santidade e estava provavelmente tanto pela coerência da política social da Igreja, estabelecida desde Leão XIII e confirmada por João XXIII e Paulo VI, quanto pelo que seus olhos viram no Brasil, ele está também no coração de todos os homens de responsabilidade deste País. Continue a ler
Palácio do Planalto, Brasília, 15 de março de 1985 As nações, como os homens que a constituem, são imperfeitas construções da História. Não há povos — nem homens — servidos apenas de virtudes, nem aqueles submissos inteiramente aos pecados. Mas ao mesmo tempo as nações, como os homens, carregam em si, com suas imperfeições, a busca do ideal e da perfeição, procurando recuperar os caminhos que tenham sido perdidos nas tardes da aventura e nas noites do medo. É, pois, sinal do homem, assim como das nações, a ânsia da Continue a ler
Palácio do Planalto, Brasília, 15 de março de 1985 Eu estou com os olhos de ontem. E ainda prisioneiro de uma emoção que não se esgota. O Deus da minha fé, que me guardou a vida, quis que eu presidisse a esta solenidade. Ele não me teria trazido de tão longe, se não me desse também, na sua bondade, as virtudes da paciência, do equilíbrio, da coragem, do idealismo, da firmeza e da visão maior das nossas responsabilidades perante esta Nação e sua história. Na forma da Constituição Federal assumi Continue a ler
Câmara dos Deputados, Brasília, DF, 18 de março de 1964 Senhor Presidente, Senhores. Deputados, a tônica de todos os discursos proferidos nesta legislatura, e já na legislatura anterior, é a grave crise nacional. Aliás, ela já se tornou um fato cotidiano na nossa vida. Acima das palavras, encontramos a gravidade do momento presente na própria divergência entre a estrutura social e a política. Há um ano, na União Democrática Nacional, ao inaugurarmos a legislatura, tentamos nós, um grupo de Deputados, fixar uma posição que desse ao partido e à Nação a Continue a ler
Senado Federal, Brasília, 19 de junho de 1972 Senhor Presidente, Srs. Senadores, realizou-se e foi encerrada, ontem, em Estocolmo, a conferência que as Nações Unidas convocaram para debater os problemas do meio ambiente. É a primeira tomada de posição da humanidade, através dos estados, sobre um problema que se tornou evidente com o avanço da era industrial. Os resultados parecem que foram muito pálidos. A sua preparação difícil e as controvérsias não ajustadas na agenda preliminar continuaram até o fim dos trabalhos, enfraquecidos pela não participação do leste europeu. Talvez Continue a ler
Academia Francesa, Paris, França, 23 de junho de 2005 Quando a Academia Francesa foi fundada, em 1635, num mundo conhecido, o Brasil era uma indefinida colônia portuguesa, numa América fantástica e de sonhos. Era o tempo da formação do Estado francês, que remonta a Filipe o Belo, conheceu grande impulso sob Henrique IV e foi terminada pelo Cardeal Richelieu. O Brasil era um desenho, linhas imprecisas de um país, cuja única definição estava na cabeça dos reis e navegantes lusitanos. Era tudo mistério e lendas, inventadas e divulgadas na ingênua Continue a ler
Senado Federal, Brasília, 7 de julho de 2006 Esta semana procurei oportunidade de falar, mas, infelizmente, tivemos uma semana entre o vazio e muita coisa a fazer. Mas é do meu dever, antes de começarmos a campanha presidencial, fixar minha posição aqui, porque vou, a partir da próxima semana, como candidato, praticamente me ausentar do Senado. Devo dizer das minhas posições e, ao mesmo tempo, fazer algumas considerações sobre as mesmas. O Senador Geraldo Mesquita disse que o Brasil sofreu muito, a sua torcida sofreu muito. Realmente sofremos muito, mas Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 13 de abril de 1972 Nada acrescentam ao brilho desta sessão e à glória do grande morto as palavras que vou proferir neste plenário. Contudo a elas sou levado pou um dever de consciência e motivado por dois sentimentos, a que não posso furtar-me. O primeiro deles, o sentimento de admiração, a admiração que votava a Milton Campos; o segundo, da amizade que, se não posso hoje unilateralmente classificar de íntima, também não posso deixar de dizer que era estreita, afetuosa e de longa data. Milton Continue a ler
Senado Federal, Brasília, DF, 2 de setembro de 1981 O Brasil recebeu, entre atônito e revoltado, a trágica notícia da morte de Glauber Rocha. Na história da inteligência brasileira Glauber Rocha foi, sem dúvida, um dos ins- tantes maiores. Romancista, poeta, jornalista, cineasta, marcou de genialidade todas essas atividades do espírito. Ele resumiu sua presença nesses campos como sendo apenas um “intelectual”, e acrescentava, com a marca polêmica de sua visão do mundo: “Não me cobrem coerência.” Glauber Rocha consumiu a sua vida pela presença constante da paixão. Aqui, nesta Continue a ler