O Governo Sarney foi marcado pela implementação de vários projetos sociais e de infraestrutura, além da expansão das relações internacionais. 

Direitos da Mulher

Em maio de 1985, Sarney criou uma comissão especial, presidida pela atriz Ruth Escobar, para preparar anteprojeto de um Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Já em setembro, o conselho foi instalado, cumprindo-se as determinações da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Discriminações contra a Mulher, de que o Brasil já era signatário. Sarney afirmou, na ocasião, que subsistiam no Brasil profundas desigualdades sociais que mantinham a mulher como um cidadão marginalizado, e que necessitavam ser eliminadas. 

Reforma Agrária

Na pauta da Aliança Democrática constava a criação do Ministério Extraordinário de Assuntos Fundiários. Sarney não concordou com o nome escolhido, que tentava evitar a expressão “reforma agrária”. Acabou sendo criado o Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, com o compromisso de implantar o Estatuto da Terra, harmonizar os conflitos no campo, acabar com a injustiça e a violência que dominavam o setor. Nos cinco anos de Governo Sarney, foram regularizados 4 milhões e 300 mil hectares — 10 vezes mais do que tudo que tinha sido feito nos 20 anos decorridos desde a sanção do Estatuto da Terra. Mais de 200 mil famílias foram beneficiadas. Ainda com o objetivo de melhorar a vida dos trabalhadores do campo, em setembro de 1985, Sarney estendeu a eles os benefícios da Previdência Social. 

Igualdade Racial

José Sarney sempre foi defensor da igualdade racial. Ainda jovem, aos 31 anos, o deputado Sarney, como delegado especial do Brasil na XVI Assembléia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), subiu à tribuna para condenar o apartheid. Em 1988, nas comemorações do Centenário da Abolição da Escravatura, Sarney criou a Fundação Palmares, destinada à promoção dos afrodescendentes, especialmente em seus aspectos culturais e sociais. Ainda como presidente da República, novamente na ONU, Sarney assinou a adesão brasileira ao tratado contra qualquer forma de discriminação e voltou a condenar o apartheid. Defendeu e impôs sanções à África do Sul. Transformou em monumento nacional a Serra da Barriga, em União dos Palmares, Alagoas. Como senador, Sarney lutou pela política de cotas como instrumento fundamental para alcançar a igualdade racial no Brasil,. 

Assistência Médica Universal – o SUDS

A universalização do direito à saúde é uma das conquistas do Governo Sarney. Até então, apenas os trabalhadores que contribuíam para a Previdência Social tinham direito a atendimento na rede pública. Quem não contribuía com o sistema previdenciário era atendido em hospitais filantrópicos. Em março de 1986, foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que resultou na implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS). A  preocupação de Sarney em universalizar a saúde foi a de proteger todos e não apenas os trabalhadores que possuíam uma boa base organizacional e grande capacidade de mobilização. A decisão foi incorporada à Constituição de 1988.

Meio Ambiente 

Sarney foi um pioneiro ao introduzir no debate parlamentar a questão ambiental, levando ao Plenário, em 1972, avaliação sobre a Conferência de Estocolmo — Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente —, promovida pela ONU. Logo no início de seu governo, Sarney criou o Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. Em outubro de 1988, diante da situação crítica das queimadas e desmatamentos na Floresta Amazônica, Sarney criou o Programa Nossa Natureza — Programa de Defesa do Complexo de Ecossistema da Amazônia Legal —, destinado a estabelecer condições para utilização e preservação do meio ambiente e dos recursos naturais da Amazônia.

No ano seguinte, reuniu todas as entidades que tratavam de meio ambiente no país no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Ao mesmo tempo, criou o Fundo Nacional do Meio Ambiente, provedor de recursos para a área, e o projeto Calha Norte, destinado a resguardar a região de fronteira amazônica. 

Lei de Incentivo à Cultura

A primeira legislação federal de incentivo fiscal à produção cultural, batizada de Lei Sarney, foi sancionada em 2 de julho de 1986, concretizando projetos que apresentara seguidamente desde 1972. A iniciativa aprofundou o processo de valorização da cultura brasileira,  iniciado com a criação do Ministério da Cultura, no primeiro mês do governo. A Lei Sarney estabelecia uma relação entre o poder público e o privado. O primeiro abdicava de parte dos impostos devidos pelo segundo, a chamada renúncia fiscal. Assim surgiu como um novo paradigma para as relações entre a classe artística e o empresariado, que investiria em produtos culturais, como cinema, teatro, literatura, artes plásticas e patrimônio. 

Vale Transporte 

No final de seu primeiro ano de governo, Sarney criou o Vale-Transporte. O beneficio social melhorou a vida de milhões de usuários, garantindo o direito básico do trabalhador de se locomover até seu local de trabalho sem que sua renda fosse comprometida. Um dos principais objetivos dessa iniciativa foi corrigir a situação que levava os trabalhadores brasileiros a gastarem até 40% de seus orçamentos para pagar o transporte até o trabalho. Hoje, 47% dos usuários de transporte urbano no Brasil utilizam o Vale-Transporte. 

Secretaria do Tesouro e Siafi

Sarney promoveu mudanças na gestão do orçamento e tornou as contas públicas mais transparentes, com a criação do Siafi – Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal. A execução orçamentária, que era função do Banco do Brasil, passou para a Secretaria do Tesouro Nacional, criada logo no início do governo. Todas as despesas de natureza fiscal passaram a fazer parte do orçamento geral da União, que foi centralizado, com o fim da conta-movimento do Banco Central no Banco do Brasil.

Política Externa

Durante a presidência de Sarney, a política externa brasileira abandonou o alinhamento automático aos Estados Unidos. Voltou à posição de independência e abertura ao diálogo com todos os países, seguindo a tradição iniciada pelo Barão do Rio Branco e consolidada por Afonso Arinos. A retomada das relações diplomáticas com Cuba, a busca da integração sulamericana e a defesa das nações em desenvolvimento marcaram essa postura.

Sarney fez o discurso de abertura da 40ª Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1985. Ali afirmou que o problema da dívida externa dos países pobres não deveria ser resolvido submetendo suas populações a condições ainda mais miseráveis. Essa posição foi combatida pelos governos americados dos presidentes Reagan e Bush, que pressionaram o Brasil com sanções comerciais.

O Cone Sul e a América Latina

Sarney estreitou os laços com a Argentina e o Uruguai, em estreita sintonia com seus respectivos presidentes, Raúl Alfonsín e Julio Maria Sanguinetti. Restabeleceram a confiança entre os vizinhos, comprometendo-se com o uso pacífico da energia nuclear e com a democracia. Assim, surgiu o embrião do Mercosul, que tinha como cláusula a restrição a países que não estivessem em pleno funcionamento das instituições democráticas.

Houve aproximação com diversos outros países latinoamericanos, como Paraguai, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Peru e México.  A diplomacia brasileira foi determinante também para a pacificação dos conflitos no Caribe, com a formação do Grupo de Apoio a Contadora (depois, Grupo do Rio).

Admirador da redemocratização da Espanha, realizada com o Pacto de Moncloa, que tinha como modelo, Sarney manteve forte diálogo com Felipe González, primeiro ministro espanhol.

Os países de Língua Portuguesa e a China

Junto com o presidente português Mário Soares, Sarney organizou reunião em São Luís reunindo Brasil, Portugal e os países lusófonos da África. O encontro estruturou as bases da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Visitou Cabo Verde e Angola, país que apoiou firmemente no conflito com a África do Sul, cujo regime de apartheid Sarney condenava com veemência. 

Sarney foi à França em 1988 e 1989 (por ocasião do bicentenário da Revolução Francesa), em retribuição à visita do presidente Mitterrand ao Brasil. Viajou à União Soviética, com a qual estabeleu importante parceira comercial (a URSS passava, então, pela abertura econômica de Mikhail Gorbachev, a glasnost). Sarney foi ainda à China de Deng Xiaoping (também sob fortes transformações econômicas), assinando acordos de cooperação tecnológica para o lançamento de satélites.