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A Coluna do Sarney

A velhice é boa

O tempo destrói tudo, mas também constrói. É dele que se faz a vida. Sempre gostei dos velhos e sempre pedi a Deus para chegar à velhice. Muito se fala que os medicamentos descobertos pela ciência e o estilo de vida são responsáveis pela longevidade. E se relacionam muitas pessoas que envelheceram e continuam trabalhando e mantendo seu estilo de vida. Com isso agradam às suas famílias, que se reúnem para receber e retribuir afeto e carinho. No Brasil, segundo o IBGE, são 780 mil pessoas com mais de 90 Continue a ler

O complexo dos muros

Estamos num tempo de guerras sem tiros, sem lenço e sem documento. Refiro-me à guerra econômica, de taxas protecionistas, alfandegárias, de um lado para o outro, entre os Estados Unidos e a China, o Canadá, o México, a Colômbia. E nós, no Brasil, aqui encolhidos esperando que sobrem para nós algumas taxas em nossos sapatos, aço, sucos e outras coisas mais. Como o Brasil tem com os Estados Unidos uma troca de exportação-importação equilibrada, não dá para entender nada daquela frase do Presidente Trump de que “eles precisam mais de nós Continue a ler

Mercosul, garante da Paz

As raízes do Mercosul remontam ao meu primeiro encontro com Raul Alfonsín, em Foz do Iguaçu, novembro de 1985, quando lhe propus que encerrássemos essas equivocadas divergências históricas, que mantinham nossas relações cheias de atrito. Disse-lhe que ninguém podia modificar a geografia. Nossos territórios eram contínuos e fomos destinados a viver juntos. Alfonsín me respondeu que suas ideias eram as mesmas. Firmamos, então, o Documento de Iguaçu, documento fundacional, e abordamos o problema nuclear com que alguns setores militares estavam empenhados desenvolvendo um artefato nuclear, bomba atômica, visando um status de potência Continue a ler

Tancredo

Na semana que passou escrevi sobre a sacralidade da democracia dizendo que ela devia ser um dogma na consciência de cada um. O tema tinha a imposição da data de 15 de janeiro, quando o Brasil, há 40 anos, via surgir a volta da Democracia. Nessa data fomos eleitos, Tancredo Neves e eu, Presidente e Vice-Presidente, na forma da Constituição. Tenho ao longo desses 40 anos preservado a memória de Tancredo Neves para manter a minha obrigação moral de lembrá-lo como um dos heróis do sentimento democrático do País. A Continue a ler

Democracia é dogma

Há 40 anos, 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves e eu fomos eleitos Presidente e Vice-Presidente da República. Era a chegada da Democracia. Sem ela não teríamos sido Presidentes. Anos depois, também possibilitaria que Lula, um operário, fosse eleito Presidente da República. Lamentavelmente o Brasil tem uma ponderável parcela da população que ainda não tem consciência do que esse regime representa. As últimas pesquisas publicadas da percepção do povo sobre democracia registraram que cerca de 30% da opinião pública ainda não apoia o regime democrático, prefere a ditadura ou Continue a ler

40 Anos de Democracia

Tenho a sensação de que o tempo está passando por uma compressão nos últimos anos. Se fosse físico, fascinado como sou pelas partículas de altas energias, iria estudar este fenômeno que sinto. O tempo, como tenho dito, é uma criação do homem. Principalmente as datas redondas. Fui surpreendido quando verifiquei que, no dia 15 de janeiro, daqui a sete dias, completamos 40 anos da minha eleição com Tancredo Neves para a Presidência da República. Assim, encerramos o período dos governos militares, quando tivemos leis e procedimentos autoritários, o que para Continue a ler

O Tempo e a Democracia

A liberdade tem grande poder criativo. Até mesmo os excessos o seu exercício corrige. É necessário, para entendê-la, compreender o que é o tempo. Leonardo da Vinci escreveu, numa noite, em seus angustiados cadernos, que “a justiça é filha do tempo”. Um dia, em Hong Kong, em companhia do embaixador Miguel Osório ─ que naqueles anos procurava desvendar o mistério do que ocorria com a Revolução Cultural na China ─, ouvi a afirmativa de um velho poeta, com o sabor de sabedoria milenar, de que nós, do Ocidente, não sabíamos Continue a ler

Um Menino chamado Jesus

O que é o Natal? Hoje, uma festa de confraternização universal, momento da fraternidade, a farra da mídia e do consumismo. Passamos mais um. Deus nos deu a graça da vida para abraçar amigos, reunir a família e, com o mundo globalizado, usufruir de uma alegria universal padronizada, entre o velho Papai Noel e luzes, fogos, festas. Há um esquecimento quase total do verdadeiro simbolismo do Natal, uma data essencialmente religiosa. É o fundamento do Cristianismo. É a certeza de que o Deus de todas as coisas, que criou este Continue a ler

Ninguém se perde no caminho da volta

O título deste artigo é uma frase que se tornou célebre na década de 50, do meu antecessor na Cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras, que ocupo, José Américo de Almeida, grande romancista do Nordeste, autor de “A Bagaceira”, livro que foi uma marca no conjunto de escritores da região, um dos “búfalos” que Oswald de Andrade disse que invadiram a Semana de Arte Moderna de 22, abafando-a na importância que passaram a ter na história da literatura brasileira. José Américo foi também candidato a presidente da República para Continue a ler

O nascer da memória

Busco na memória minha mais antiga recordação. É um terreno cinza, cheio de brumas, em que não distingo bem o real e o sonho. É uma fileira de índios, um atrás do outro, de flechas na mão. Minha mãe, cuja face me ficou presente em todos os períodos da vida, fecha a porta e me pede que entre. Lembro a cidade de Pinheiro, as casas baixas, a rua deserta e a visão do campo verde, uma planície sem fim que se perdia no horizonte. Lembro as chuvas e, na minha Continue a ler

Natal com barbas de frade

Já entramos no Advento e começamos a ouvir os sinos do Natal — para mim uma festa de alegrias contidas, com o saibo das ausências —, e a minha memória me convida a pensar em Frei Agostinho, a quem ouvia todo domingo, assistindo à sua missa na pequena e modesta Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Lá encontrávamos sempre dezenas de pedintes e pobres que eram de sua assistência. O IPHAN e a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico, sob o comando caridoso de Kátia Bogéa — essa brilhante Continue a ler

Uma COP que caiu no poço

Uma longa e prolongada salva de palmas explodiu quando o Presidente da COP29 anunciou que tinham chegado a um acordo: 300 bilhões de dólares dos países ricos para financiar medidas destinadas a combater e limitar o aumento do clima no mundo. Mas logo em seguida levantou-se um dos delegados — eram três horas da manhã — e disse: “Estes aplausos não são para este vergonhoso acordo, mas sim porque o Sr. Presidente anunciou que está encerrada esta fracassada Conferência.” Nesse momento repetiram-se os aplausos. Os delegados, exaustos, dormiam por todos Continue a ler

Lula e o G20

O Presidente Lula marcou um gol olímpico com a realização no Brasil da Cúpula do G2O. Antes da Cúpula, a reunião do G20 Social foi um sucesso, com a extensão dos objetivos do Grupo para enfrentar os problemas sociais e, para isso, conseguiu mesmo que se realizasse um evento paralelo com representantes de líderes de movimentos populares, tendo como foco o problema da fome, produzindo um documento para ser entregue à Troika, formada pelo atual presidente (Brasil, 2024), pelo ex-presidente (Índia, 2023) e pelo futuro presidente (África do Sul, 2025), conforme Continue a ler

As baleias das crianças

Quem possui muitos livros e tem o hábito de, à noite, visitá-los, percorrendo as estantes para encontrar determinado título, aprende que os livros são danados para “andar”. É que quem gosta de livro e vai durante a noite atrás de um específico na estante, ao se deparar com outro que atrai sua atenção, coloca este fora da prateleira para no dia seguinte buscá-lo. E começa a fazer isso com tantos que esquece o lugar onde cada um estava. Assim ao encontrar determinado livro fora do seu lugar fica com a Continue a ler

MDB vitorioso

No começo da República, o Brasil não teve partido nacional, adotou o modelo de partidos estaduais. A lei que criou o regime de partido nacional foi a de 1945, a chamada Lei Agamenon Magalhães. Então, surgiram o Partido Republicano, de Artur Bernardes; o Partido Socialista, de João Mangabeira; o Partido Libertador, ou melhor, parlamentarista, de Raul Pilla e assim por diante. O regime de 1964 extinguiu os partidos, com o Ato Institucional nº 2. Bem ou mal, aqueles partidos do regime de 1946 tiveram líderes de peso nacional, como Otávio Continue a ler

Paulo Brossard

Paulo Brossard nasceu em 1924. No dia 23 de outubro ocorreu seu centenário. Esta é uma data que marca o momento de relembrar sua vida gloriosa, pelo que serviu ao Brasil, e homenagear a memória de um dos maiores políticos e oradores de nossa história parlamentar. Conheci Paulo Brossard em 1975 quando ele chegou ao Senado Federal e eu estava na metade do meu primeiro mandato de senador pelo Maranhão. Vi logo tratar-se de um intelectual. Já fora consagrado no Rio Grande do Sul como professor da Pontifícia Universidade Católica Continue a ler

Nazareth, 100 anos

Hoje escrevo afastado do monótono cotidiano: me volto para as razões do coração, relembrando minha gratidão eterna a Odylo Costa, filho, que me deu a felicidade de ser o meu melhor amigo — amizade esta que extrapolava para Nazareth, sua mulher, e seus filhos. Odylo foi o maior jornalista do seu tempo. Ele não se esgotou no que escrevia, mas modernizou o conteúdo e a forma da imprensa, quando editou o Jornal do Brasil e promoveu uma revolução que logo viralizou (para usar uma expressão de hoje), como com Pompeu de Souza, Continue a ler

O candidato Trump

O general Mark Milley foi o chefe do Estado Maior do Exército e das Forças Armadas americanas entre fins de 2019 e fins de 2023. Serviu, portanto, no governo Trump. Agora o jornalista Bob Woodward — um dos repórteres que revelaram o Watergate —, em livro que acaba de sair, War, cita declarações do general sobre Trump: “Ele é a pessoa mais perigosa que já existiu. Eu suspeitava quando falei para você sobre seu declínio mental, mas agora eu realizo que ele é um total fascista. Um fascista até o cerne.” Continue a ler

Eleição sem ideias

Passamos mais uma eleição, a vigésima primeira desde a Constituição de 1988: dez gerais, dez municipais, dez presidenciais. A conta parece errada, mas a eleição presidencial de 1989 foi separada da eleição para as duas casas do Congresso, realizada em 1990. A partir de então os anos pares alternam as eleições gerais com as municipais. A eleição de 1989 foi a última das quatro que presidi em meus cinco anos de governo. Logo em 1985 fizemos eleições para prefeitos das capitais, de áreas de segurança nacional e de estâncias hidrominerais!?! Continue a ler

Hora de votar

Votação municipal, como se sabe, é coisa antiga no Brasil. Em 1532 votou-se em São Vicente de acordo com as Ordenações Manuelinas, na terceira edição, a de 1521, que mandou destruir todos os exemplares das anteriores. Claro que, tendo sido impressas ainda nas prensas manuais, os exemplares não chegavam a estes confins da metade portuguesa do mundo — e as regras eram transmitidas de boca em boca, de carta em carta até chegar à vila do Bacharel da Cananeia: em 1526 eram “dez ou doze casas, uma feita de pedra Continue a ler

O Brasil precisa de democracia

A ideia de Jefferson de que todos os homens são iguais e detentores de direitos inalienáveis gerou a essência da primeira constituição francesa, concentrada na declaração universal dos direitos do homem; a de Lincoln, o governo do povo, pelo povo e para o povo, formara a base da constituição de Madison, que logo viu que lhe faltava a “bill of rights”. Postas estas vertentes, a democracia se solidifica em Estado, e Estado de Direito, em que prevalece o regime da lei e não o do homem. Mas a palavra é Continue a ler

Mercosul

Quem perde a memória histórica pode repetir os erros do passado. A história das relações Brasil e Argentina foi marcada por desencontros. A Questão do Prata, como a via dominadora do centro da América do Sul, criou rivalidades e alimentou muitas disputas que, por imobilismo, chegaram à segunda metade do século passado. A tese que naquele tempo se tornou verdadeira argumentava que quem dominasse a Bacia do Prata dominaria a região, porque os rios que ali desembocavam levavam ao reino de Preste João, uma lenda sobre lagos de ouro que Continue a ler

40 anos de Democracia

No próximo ano, no dia 15 de março, comemoraremos 40 anos de democracia. Saímos de um regime autoritário para a implantação do Estado de Direito, governo das leis, e não dos homens. A transição democrática sempre foi um momento de grandes desafios e perplexidade. Muitas vezes transforma ídolos em políticos destruídos; desconhecidos, em heróis. Exemplo disso foi a Espanha, na travessia de Franco para a monarquia, quando surgiu a figura de Adolfo Suárez, que fez a transição, entrando na História. O brasilianista Ronald M. Schneider, que escreveu sobre as transições Continue a ler

Demografia e meio ambiente

No Brasil nunca os políticos discutiram com a profundidade devida o problema demográfico, nem apareceu nenhum que o quisesse enfrentar e levantar como uma das preocupações nacionais. Agora, com as revelações do IBGE e as projeções que fez sobre um Brasil de 2070, com uma população envelhecida e o início do declínio do número de seus habitantes, e as primeiras avaliações na imprensa das consequências dessa nova realidade, destacam-se as repercussões na Previdência Social. Assim, hoje temos quatro contribuintes para cada aposentado; em 2070 teremos uma igualdade trágica de um Continue a ler

Os riscos da Presidência

A História do Brasil foi marcada sempre pela frequência com que a transmissão do poder sofreu ameaça de continuidade de parte dos perdedores. Se analisarmos bem e pensarmos nas circunstâncias da época, chegaremos à conclusão de que a primeira ameaça foi contra Prudente de Morais. Tendo sito derrotado por Floriano Peixoto na primeira disputa, na segunda, com a nova Constituição já em vigor, venceu as eleições e transformou-se no primeiro Governo civil da República. Mas foi eleito com a marca de que podia ser deposto. Teve que lidar com a Continue a ler

Desgostos de agosto

Agosto é mês de desgosto, diz o bordão. Logo se cita o suicídio de Getúlio. Mas outro caso de agosto teve profundas repercussões na História do Brasil: a renúncia de Jânio Quadros. Carlos Castelo Branco, que gostava de afirmar que era apenas um repórter, mas o consolidador do jornalismo de análise em nosso País, publicou um pequeno livro com seu depoimento sobre a renúncia do Presidente Jânio Quadros. Muitas vezes disse-me que tinha escrito estas páginas e que elas somente deveriam ser publicadas depois de sua morte. É o relato Continue a ler

Ciladas da Transição

Leio que os Estados Unidos, já dando como certa a queda do Maduro, articula negociar a transição e nesta o ponto principal é a anistia. Certamente nenhuma transição, com as características da Venezuela e do chavismo, pode ser feita de maneira negociada sem alguma anistia. Há duas formas de transição: com negociação, necessitando de uma engenharia política difícil, que leva tempo; ou pelas armas, o que impõe uma derrota da parte coatora, com o preço alto de uma guerra civil. E não devemos menosprezar aquilo que nos lembra Afonso Arinos, Continue a ler

Ainda a Venezuela

A ideia de democracia é curiosa: vive acompanhada de adjetivos, mas só vale quando não os tem. Democracia liberal, democracia social, democracia relativa, democracia isso ou aquilo. Os adjetivos entram como atenuações do substantivo e já vão, ao qualificar, desqualificando. Quando estávamos, Alfonsín, Sanguinetti e eu, construindo a aliança que resultou no Mercosul, fui inaugurar a 15ª turbina de Itaipu. Encontrei nosso parceiro, Alfredo Stroessner, Presidente do Paraguai havia uns anos — desde 1954! Queria fazer parte dos acordos. Foi difícil explicar que tínhamos uma cláusula democrática, só estávamos falando Continue a ler

Três decisões

O grande desafio dos países em desenvolvimento é, sem nenhuma contestação, o atraso científico e tecnológico. O mundo do futuro não será de países grandes ou pequenos, mas dividido entre os países que dominam ciência e tecnologia e os que ficarão colonizados, importando as conquistas da humanidade e condenados ao atraso. Durante o tempo em que fui presidente, procurei prestigiar estes setores em que tínhamos nomes como o de Alberto Santoro, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, e o de Israel Vargas, depois ministro de ciência e tecnologia. Sempre fui Continue a ler

A coragem de Biden

O mundo sempre olhou com admiração a experiência democrática americana. Mas nela choca a violência política, com o assassinato de quatro presidentes e de vários líderes políticos, entre inúmeras tentativas. O tiro contra Trump segue o mau costume. Surpreendente mesmo foi o que aconteceu com o Presidente Joe Biden. Ele é o decano dos políticos americanos. Sua vitória sobre um ex-governador e duas vezes senador lhe dera uma entrada brilhante no Senado. Sete vezes senador, mostrou-se um habilidoso negociador e legislador, figura importante na Comissão de Justiça e na Comissão Continue a ler

Mensagens de Aniversário