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A Palavra do Sarney

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Nazareth, 100 anos

Hoje escrevo afastado do monótono cotidiano: me volto para as razões do coração, relembrando minha gratidão eterna a Odylo Costa, filho, que me deu a felicidade de ser o meu melhor amigo — amizade esta que extrapolava para Nazareth, sua mulher, e seus filhos. Odylo foi o maior jornalista do seu tempo. Ele não se esgotou no que escrevia, mas modernizou o conteúdo e a forma da imprensa, quando editou o Jornal do Brasil e promoveu uma revolução que logo viralizou (para usar uma expressão de hoje), como com Pompeu de Souza, Continue a ler

O candidato Trump

O general Mark Milley foi o chefe do Estado Maior do Exército e das Forças Armadas americanas entre fins de 2019 e fins de 2023. Serviu, portanto, no governo Trump. Agora o jornalista Bob Woodward — um dos repórteres que revelaram o Watergate —, em livro que acaba de sair, War, cita declarações do general sobre Trump: “Ele é a pessoa mais perigosa que já existiu. Eu suspeitava quando falei para você sobre seu declínio mental, mas agora eu realizo que ele é um total fascista. Um fascista até o cerne.” Continue a ler

Eleição sem ideias

Passamos mais uma eleição, a vigésima primeira desde a Constituição de 1988: dez gerais, dez municipais, dez presidenciais. A conta parece errada, mas a eleição presidencial de 1989 foi separada da eleição para as duas casas do Congresso, realizada em 1990. A partir de então os anos pares alternam as eleições gerais com as municipais. A eleição de 1989 foi a última das quatro que presidi em meus cinco anos de governo. Logo em 1985 fizemos eleições para prefeitos das capitais, de áreas de segurança nacional e de estâncias hidrominerais!?! Continue a ler

Nota – Senador Saturnino Braga

Fiquei muito consternado ao receber a notícia do falecimento do Senador Saturnino Braga, com quem tive uma convivência bastante estreita na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Era um homem de convicções, que deu uma contribuição valiosa à política brasileira, na qual sua participação foi marcante e imprescindível no debate dos grandes temas nacionais. O Brasil sente o desaparecimento de um homem que foi uma expressão de patriotismo e brasilidade. Comungo com sua família esse sentimento de dor.

Nota: CID MOREIRA

Recebi com muita emoção a notícia do desaparecimento de Cid Moreira, que está no imaginário brasileiro porque, durante muito tempo, foi um informante das principais notícias nacionais e internacionais. Era um profissional extremamente competente, dono de voz marcante, de cujo trabalho até hoje lembramos com grande admiração. Cid Moreira deixa muita saudade. Envio à família os meus sentimentos de pesar, comungando com todos esse momento de dor.

Hora de votar

Votação municipal, como se sabe, é coisa antiga no Brasil. Em 1532 votou-se em São Vicente de acordo com as Ordenações Manuelinas, na terceira edição, a de 1521, que mandou destruir todos os exemplares das anteriores. Claro que, tendo sido impressas ainda nas prensas manuais, os exemplares não chegavam a estes confins da metade portuguesa do mundo — e as regras eram transmitidas de boca em boca, de carta em carta até chegar à vila do Bacharel da Cananeia: em 1526 eram “dez ou doze casas, uma feita de pedra Continue a ler

O Brasil precisa de democracia

A ideia de Jefferson de que todos os homens são iguais e detentores de direitos inalienáveis gerou a essência da primeira constituição francesa, concentrada na declaração universal dos direitos do homem; a de Lincoln, o governo do povo, pelo povo e para o povo, formara a base da constituição de Madison, que logo viu que lhe faltava a “bill of rights”. Postas estas vertentes, a democracia se solidifica em Estado, e Estado de Direito, em que prevalece o regime da lei e não o do homem. Mas a palavra é Continue a ler

Mercosul

Quem perde a memória histórica pode repetir os erros do passado. A história das relações Brasil e Argentina foi marcada por desencontros. A Questão do Prata, como a via dominadora do centro da América do Sul, criou rivalidades e alimentou muitas disputas que, por imobilismo, chegaram à segunda metade do século passado. A tese que naquele tempo se tornou verdadeira argumentava que quem dominasse a Bacia do Prata dominaria a região, porque os rios que ali desembocavam levavam ao reino de Preste João, uma lenda sobre lagos de ouro que Continue a ler

40 anos de Democracia

No próximo ano, no dia 15 de março, comemoraremos 40 anos de democracia. Saímos de um regime autoritário para a implantação do Estado de Direito, governo das leis, e não dos homens. A transição democrática sempre foi um momento de grandes desafios e perplexidade. Muitas vezes transforma ídolos em políticos destruídos; desconhecidos, em heróis. Exemplo disso foi a Espanha, na travessia de Franco para a monarquia, quando surgiu a figura de Adolfo Suárez, que fez a transição, entrando na História. O brasilianista Ronald M. Schneider, que escreveu sobre as transições Continue a ler

Demografia e meio ambiente

No Brasil nunca os políticos discutiram com a profundidade devida o problema demográfico, nem apareceu nenhum que o quisesse enfrentar e levantar como uma das preocupações nacionais. Agora, com as revelações do IBGE e as projeções que fez sobre um Brasil de 2070, com uma população envelhecida e o início do declínio do número de seus habitantes, e as primeiras avaliações na imprensa das consequências dessa nova realidade, destacam-se as repercussões na Previdência Social. Assim, hoje temos quatro contribuintes para cada aposentado; em 2070 teremos uma igualdade trágica de um Continue a ler

Os riscos da Presidência

A História do Brasil foi marcada sempre pela frequência com que a transmissão do poder sofreu ameaça de continuidade de parte dos perdedores. Se analisarmos bem e pensarmos nas circunstâncias da época, chegaremos à conclusão de que a primeira ameaça foi contra Prudente de Morais. Tendo sito derrotado por Floriano Peixoto na primeira disputa, na segunda, com a nova Constituição já em vigor, venceu as eleições e transformou-se no primeiro Governo civil da República. Mas foi eleito com a marca de que podia ser deposto. Teve que lidar com a Continue a ler

Desgostos de agosto

Agosto é mês de desgosto, diz o bordão. Logo se cita o suicídio de Getúlio. Mas outro caso de agosto teve profundas repercussões na História do Brasil: a renúncia de Jânio Quadros. Carlos Castelo Branco, que gostava de afirmar que era apenas um repórter, mas o consolidador do jornalismo de análise em nosso País, publicou um pequeno livro com seu depoimento sobre a renúncia do Presidente Jânio Quadros. Muitas vezes disse-me que tinha escrito estas páginas e que elas somente deveriam ser publicadas depois de sua morte. É o relato Continue a ler

Ciladas da Transição

Leio que os Estados Unidos, já dando como certa a queda do Maduro, articula negociar a transição e nesta o ponto principal é a anistia. Certamente nenhuma transição, com as características da Venezuela e do chavismo, pode ser feita de maneira negociada sem alguma anistia. Há duas formas de transição: com negociação, necessitando de uma engenharia política difícil, que leva tempo; ou pelas armas, o que impõe uma derrota da parte coatora, com o preço alto de uma guerra civil. E não devemos menosprezar aquilo que nos lembra Afonso Arinos, Continue a ler

Ainda a Venezuela

A ideia de democracia é curiosa: vive acompanhada de adjetivos, mas só vale quando não os tem. Democracia liberal, democracia social, democracia relativa, democracia isso ou aquilo. Os adjetivos entram como atenuações do substantivo e já vão, ao qualificar, desqualificando. Quando estávamos, Alfonsín, Sanguinetti e eu, construindo a aliança que resultou no Mercosul, fui inaugurar a 15ª turbina de Itaipu. Encontrei nosso parceiro, Alfredo Stroessner, Presidente do Paraguai havia uns anos — desde 1954! Queria fazer parte dos acordos. Foi difícil explicar que tínhamos uma cláusula democrática, só estávamos falando Continue a ler

Três decisões

O grande desafio dos países em desenvolvimento é, sem nenhuma contestação, o atraso científico e tecnológico. O mundo do futuro não será de países grandes ou pequenos, mas dividido entre os países que dominam ciência e tecnologia e os que ficarão colonizados, importando as conquistas da humanidade e condenados ao atraso. Durante o tempo em que fui presidente, procurei prestigiar estes setores em que tínhamos nomes como o de Alberto Santoro, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, e o de Israel Vargas, depois ministro de ciência e tecnologia. Sempre fui Continue a ler

A coragem de Biden

O mundo sempre olhou com admiração a experiência democrática americana. Mas nela choca a violência política, com o assassinato de quatro presidentes e de vários líderes políticos, entre inúmeras tentativas. O tiro contra Trump segue o mau costume. Surpreendente mesmo foi o que aconteceu com o Presidente Joe Biden. Ele é o decano dos políticos americanos. Sua vitória sobre um ex-governador e duas vezes senador lhe dera uma entrada brilhante no Senado. Sete vezes senador, mostrou-se um habilidoso negociador e legislador, figura importante na Comissão de Justiça e na Comissão Continue a ler

Que tempos de viver-se!

É difícil cooptar um assunto em meio a tantos que circulam nas manchetes políticas e policiais. Você não vive o dilema de um escritor em busca de personagens, mas a necessidade de convencer um tema a que ele entre em seu artigo. Quase sempre, quando existem muitos, ele resiste. Outra coisa difícil para quem escreve é evitar a entrada de adjetivos não convidados em seu texto. Mas não há nada mais cara-de-pau do que eles. Não adianta ficar de vigia. Quando menos se espera, eles furam a vigilância e lá Continue a ler

 Hora da Paz

Dos quarenta anos que passei no Senado Federal, algumas lembranças são indeléveis, saudades que não passam e venerações que não encolhem. Entre essas quero destacar a figura de Afonso Arinos de Melo Franco, a quem nós, se fôssemos qualificar com um epíteto, como o fizeram com alguns nomes históricos, como “o Moço”, o “Velho”, chamaríamos de, Afonso Arinos, “o Grande”. Minha admiração por ele não era apenas fruto da gratidão, pois lhe devo o apoio que me deu, no princípio da minha carreira política, e o afeto com que me Continue a ler

São João do Maranhão

Como pensam os dirigentes políticos das Casas Legislativas, eu também, como filho do Nordeste, deste Meio Norte do Maranhão e Piauí na classificação dos geógrafos, estou fugindo do frio de Brasília, ou melhor, da pneumonia que ataca nesses meses no Planalto Central. Volto a minha terra, o Maranhão, minha grande paixão. Por que não confessar?­ Venho em busca de Santo Antônio, São João, São Pedro, São Paulo e São Marçal, que são festejados durante todos os dias de junho pelos cordões do bumba-meu-boi, mais de trinta grupos, cada um com Continue a ler

PILLA E PARLAMENTARISMO

Toda a classe política e os estudiosos da ciência política chegaram à  unanimidade na denominação do atual sistema de governo do Brasil como presidencialismo de coalizão, que tanto tem feito sofrer o Presidente Lula. Certo ou errado, passou a ser chamada assim essa maneira de funcionamento do Congresso, extrapolando para o campo do Executivo no seu relacionamento com os partidos políticos. Mas aqui e ali, de boca em boca, ou de sussurro em sussurro, todos falam que  caminhamos  para o parlamentarismo, experiência adotada como fórmula para superar a crise gerada com Continue a ler

José Sarney é homenageado com a maior honraria do Legislativo maranhense

“Essa medalha muito me honra, pois é uma homenagem feita na minha terra”. Foram com essas palavras que o ex-presidente da República e escritor José Sarney, 94 anos, agradeceu pela entrega da Medalha do Mérito Legislativo ‘Manuel Beckman’, maior honraria concedida pelo Parlamento estadual. A sessão solene em homenagem ao ilustre maranhense foi realizada na manhã desta quarta-feira (19), reunindo autoridades do Maranhão e outros estados. Proposta pelo deputado Roberto Costa (MDB), a Medalha ‘Manuel Beckman’ foi concedida como forma de celebrar a trajetória, ainda em vida, do homem, político Continue a ler

O FUNDADOR

Comemoramos os duzentos anos da Constituição de 1824. Sua gênese são as forças contraditórias que agiam quando se inaugurava a Nação e que se expressavam no próprio Pedro I. No jovem imperador se acumulavam os conflitos: o passional e o refletido, o romântico e o herdeiro das luzes, o príncipe e o democrata, o homem de ação e o homem de concepção. Era muito jovem — lembremos que nascera dois anos antes do século —, tivera uma educação caótica, sua mãe e seu pai se odiavam, tinha sentimentos por Portugal Continue a ler

 O milagre da língua

  Na década de 1990, a França deu o grito de alerta: se não reagirmos, dentro de quatro gerações o inglês será a língua universal. Nossos idiomas morrerão e serão apenas referências históricas. Na realidade, a língua é um instrumento de identidade e cultura. Hoje, mais do que nunca, tornou-se, também, uma fundamental ferramenta da identidade nacional. Quando em 1989 visitei Angola, o Presidente José Eduardo dos Santos falou-me da dificuldade dos projetos de educação e das relações tribais, pela barreira das línguas. Disse-lhe que o colonizador português, que tantos erros Continue a ler

COISA E CRISE

A Folha de S. Paulo, quando eu escrevia uma coluna semanal, abriu o tema do significado de “coisa” como uma palavra que servia para tudo e no fundo era sinônimo de qualquer substantivo feminino que tivéssemos como tema do nosso artigo. Era um convite a ficar “por dentro das coisas”, para falar “coisa com coisa”. Coisa de inteligência, digna de ver a coisa como a coisa é. Exemplo: Benedito Valadares, prudente e arguto, quando encontrou Juscelino, a quem tinha lançado na política, perguntou-lhe, irritado: “Você ficou doido? A coisa está Continue a ler

Quo vadis?

As enchentes no Rio Grande do Sul estão chegando a uma repetição que nos dão o sentido de que provocam uma dor que não passa. Desde outubro do ano passado o Rio Grande enfrenta, num mecanismo contraditório, seca e enchente. A primeira destruindo as lavouras, e a segundo inundando os vales nas regiões montanhosas do sul. E agora, época de chuvas, elas vêm todo dia, como se quisessem repetir o dilúvio das épocas primeiras. E, quando passarem, virá, já se anuncia, repetindo o ciclo, uma grande seca. Nessa fúria da Continue a ler

As águas de março

As águas perseguem os homens desde Noé. São comuns a todos os povos os relatos de dilúvio. Há descrição na mitologia e nas religiões. A Bíblia diz que o mundo era somente água e que Deus, depois que fez a Terra e o homem conheceu o pecado, resolveu voltar o mundo todo ao aspecto primitivo aquoso, fazendo o dilúvio, mas salvando os bons homens e os animais. Foi assim que a Arca ficou presa no Monte Ararat. A Epopeia de Gilgamés, com o mitológico deus-herói, descreve um dilúvio sobre toda a Terra (séc. 7 a/C). Era Continue a ler

Começo do fim

Em 1972 as Nações Unidas realizavam em Estocolmo a primeira conferência mundial do meio ambiente. O assunto começava a ser objeto de preocupação do mundo inteiro, com a constatação de que a agressão ao meio ambiente começava a mudar a face da Terra. Eu era Senador da República e me mantinha atualizado lendo algumas revistas francesas já preocupadas com o tema. Nelas encontrei a afirmação de Claude Lévi-Strauss de que o primeiro e grande poluidor do planeta era o próprio homem. Dele partiam as ações que impactavam negativamente a natureza. Continue a ler

Cultura e inovação

Na semana passada, quando fiz um programa de entrevista de televisão, tive a oportunidade de dizer que atravessamos no Brasil um período que chamei de “pálido” no que se refere à cultura. Podemos constatar esta afirmação, estamos com certa fome e expectativa de que surjam na atualidade artistas da dimensão de Portinari e Guimarães Rosa. Temos saudade também dos movimentos que mexeram com a música, como a Bossa Nova, de onde saíram Tom Jobim, João Gilberto; a Jovem Guarda, mesclando música, comportamento e moda; os grandes da MPB, Gil, Caetano Continue a ler

Cultura e inovação

Na semana passada, quando fiz um programa de entrevista de televisão, tive a oportunidade de dizer que atravessamos no Brasil um período que chamei de “pálido” no que se refere à cultura. Podemos constatar esta afirmação, estamos com certa fome e expectativa de que surjam na atualidade artistas da dimensão de Portinari e Guimarães Rosa. Temos saudade também dos movimentos que mexeram com a música, como a Bossa Nova, de onde saíram Tom Jobim, João Gilberto; a Jovem Guarda, mesclando música, comportamento e moda; os grandes da MPB, Gil, Caetano Continue a ler

A fome vem de longe

A história do alimento é a história do próprio homem. A primeira demanda que o homem tem para viver é justamente a de comer. A segunda é a de manter-se em segurança. Sem ela, ele não come, como também não tem direito à habitação, à vestimenta, que são os dados fundamentais do princípio da vida. Agora vejo na mídia que o problema da fome voltou a ser alvo de preocupações muito grandes. O Presidente Lula, desde que assumiu a Presidência pela primeira vez, se preocupou com esse problema e já Continue a ler