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O recorde trágico

O recorde trágico

 O Brasil atingiu, esta semana, um número de mortos pela pandemia de Covid-19 que não pode ser ignorado: passaram de 400 mil as vítimas. Os exemplos da imprensa para exprimir a dimensão da tragédia têm, e não poderia deixar de ser assim, um ar macabro. Sejam as comparações com as áreas das grandes capitais do País que seriam ocupadas por um cemitério, sejam as com o tamanho e número de cidades, sejam as com outros grandes morticínios, saímos delas com a certeza de que somos testemunhas de um marco histórico desses que acontecem poucas vezes na História.

Aos 91 anos, pertenço à mais velha das gerações contemporâneas; a gripe espanhola ocorreu doze anos antes de eu nascer. Vivi a Segunda Guerra Mundial; mais tarde acompanhei a revelação dos números dos grandes genocídios perpetrados por alemães, russos, japoneses, que mostraram os extremos limites do mal encarnado no homem. Durante a guerra chocavam as mortes civis de Dresden — 25 mil —, de Hiroshima — 170 mil. Mas guerra mesmo nós tivemos com o Paraguai, em que morreram cerca de 50 mil brasileiros. O número de paraguaios mortos é motivo de controvérsia, mas hoje os historiadores se encaminham para concordar que teriam sido em torno de 250 mil — vítimas de um dos mais tristes personagens da História das Américas, Solano López, que sacrificou todos por sua ambição pessoal.

Diante da Covid a comunidade científica mostrou, no mundo inteiro, união e solidariedade e, num prazo curto, conseguiu caminhos para aliviar o sofrimento da Humanidade. Nunca se conseguiu fazer vacinas contra um vírus novo em tão pouco tempo. A OMS fez um extraordinário trabalho de comunicação da aparição do SARS-CoV-2 e dos cuidados necessários para enfrentar a doença. Mas a gravidade da Covid-19 não pode ser minimizada. Já pegaram a doença 150 milhões de pessoas. Já há mais de 3 milhões de mortos.

Isso nos dá uma outra dimensão do problema brasileiro. Temos 1/33 avos da população mundial e 1/7 dos mortos. Não é o problema de ser uma humilhação, é o problema de estarmos agindo errado. Lembremos que além das 400 mil vítimas fatais, quase 15 milhões de pessoas pegaram a doença — muitas delas com sequelas graves —, e um número incalculável — 60, 100 milhões — teve, tivemos, que acompanhar com terror um familiar ou um amigo ficar doente e, vezes demais, falecer.

Um país, tantas vezes invocado como exemplo, é agora o modelo a seguir: os Estados Unidos. Durante nove meses Donald Trump combateu a ciência e os cientistas. Seu país colocou-se na liderança mundial de mortos, atingindo meio milhão. Então Biden assumiu. Colocou o combate nas mãos dos cientistas. Fez regras nacionais de isolamento e uso obrigatório de máscaras. O resultado não podia ser melhor, os números desabaram. Dar todo o poder à ciência é, portanto, a única solução.

Todos nós devemos ter, agora, o mesmo altruísmo que têm médicos e cientistas, que fazem enormes sacrifícios pessoais e passam por riscos tremendos: pensar no próximo, não somente em nós mesmos. Usar máscara, lavar as mãos, evitar aglomeração e qualquer coisa que ajude a disseminação do vírus, que pode se espalhar e infectar outras pessoas, inclusive as mais pobres, que têm menos condições de tratamento e, portanto, correm mais risco de morrer.

José Sarney foi Presidente do Brasil, Presidente do Senado Federal, Governador do Maranhão, Senador pelo Maranhão e pelo Amapá e Deputado Federal. É o político mais longevo da História do Brasil, com mais de 60 anos de mandatos. É autor de 122 livros com 172 edições, decano da Academia Brasileira de Letras e membro de várias outras academias.

4 thoughts on “O recorde trágico

  1. Raquel Naveira

    A pandemia está absurda, assustadora.
    Um número enorme de órfãos, viúvos e pessoas desamparadas.
    Consequências ainda vão se mostrar em todos os campos: saúde, educação, trabalho…
    Hora de solidariedade.
    De busca de Deus e de sentido na vida entre tristezas e esperanças.

  2. ISRAEL A S SOARES

    BOM DIA VENHO REALIZAR MEU COMETARIO , DIANTE DESTA GRAVE SITUAÇÃO QUE VIVEMOS NESTA PADEMIA JAS COM 400 MIL MORTOS PELA COVID19,LAMNETAMOS PROFUNDAMENTE ESTA SITUAÇÃO QUE NOSSO PAIS ESTA VIVEVENDO A NEGLIGENCIA TOTAL POR PARTE DO PODER PUBLICO DESTE PAIS.O BRASIL ERA PRA ESTA EM OUTRA SITUAÇÃO SE TIVESSE CUIDADO A TEMPO PRA A,INIZAR TANTO SOFRIMENTO VIVIDO POR MILHARES DE PESSOAS ,UM PAIS TÃO RICO EM RECURSOS MINERAIS ,PETROLEO,GAS,OUTAS RIQUEZAS QUE DEVIAM SERR TRANSFORMADO EM BENEFICIO SOCIAL AOS MAIS CARENTES DESTE PAIS.
    EM NOSSO PAIS CADA DIA QUE PASSA OS SE TORNAM MAIS RICOS E A CLASSE POBRE CADA VEZ MAIS PODRE E SOFRIDA AS POLITICAS PÚBLICAS VOLTADAS A SOCIEDADE MAIS CARENTES JA NAO EXISTE MAIS , ESTAMOS QUASE A BEIRA DE UMA RECESSAO NACIONAL COM TANTA CALAMIDADE NESTE PAIS EM TODOS OS ESTADOS DESTA NAÇÃO SO PODEMOS CONTAR MESMO COM DEUS QUE E A NOSSA UNICA SAIDA PRA TODA ESSA SITUAÇÃO QUE VIVEMOS E VIVENCIAMOS NO MOMENTO.

  3. NIVALDO ROSSATO

    As palavras do Presidente Sarney expressam bem a realidade desta doença que nos ataca e as medidas que a ponderação recomenda. Temos que nos manter mais longe da política e mais perto da ciência. Este é o caminho.

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