Desde sempre o grande desejo do homem é fugir da morte e, para uns mais avançados, com uma juventude eterna. Na Grécia a ambrosia dava imortalidade, na Idade Média os alquimistas chineses e europeus buscavam o elixir da longa vida, a pedra filosofal.
Um dos livros que mais me marcaram foi o do filósofo espanhol Dom Miguel de Unamuno, motivo de lembrança e emoção quando visitei a Universidade de Salamanca, na Espanha, onde ele pontificou — e onde fiz uma conferência sobre os 100 anos de Jorge Amado. O livro era O Sentimento Trágico da Vida, isto é, a visão da morte. Ele defende a tese de que a grande penetração do Cristianismo foi pregar a ressurreição dos corpos, o que quer dizer que nós morremos, mas voltamos com os mesmos corpos. Era uma novidade, porque todas as religiões já pregavam a imortalidade da alma, mas era um ente difuso que não se sabia onde verdadeiramente estava.
Pois não é que agora abro um jornal e vejo a notícia de que a revistaNature, célebre e prestigiosa por divulgar as novidades e descobertas científicas, publica que cientistas americanos descobriram um coquetel do rejuvenescimento.
Bastou a notícia para eu ficar logo animado. O tal coquetel foi descoberto por acaso: eles estudavam a influência de determinado remédio no crescimento da glândula timo quando descobriram que este medicamento, misturado com dois outros, tinha o poder de alterar os DNAs e fazê-los mudar nossa idade numa média de dois anos e meio.
Tive uma primeira dúvida e indagação: esse coquetel influía nos DNAs para aumentar dois anos e meio das nossas vidas ou para diminuí-las em dois anos e meio? Assim, ficaria à nossa escolha: queremos ficar dois anos e meio mais jovens ou queremos prolongar a nossa idade para viver mais em menos tempo? Eles não esclarecem se o remédio é cumulativo ou se uma só dose dá esse resultado.
Lembrei-me logo do Magalhães Pinto que dizia que velho era quem tinha um ano a mais do que ele. Se fosse assim o Magalhães não encontraria mais nenhum velho porque esses já teriam recuado dois anos pelo famoso coquetel.
A minha crença em coquetel é forte, uma vez que foi um deles, apresentado num congresso de Vancouver, que surgiu como esperança para deter a AIDS. Apresentei logo um projeto mandando que ele fosse distribuído gratuitamente a todos os brasileiros com o vírus; esse projeto funcionou e até hoje funciona, diminuindo o sofrimento dos portadores dessa epidemia que atacou a humanidade, associando nos seus males o amor à morte.
São Paulo, repito, já disse isso aqui em meus artigos, pregava que sem ressurreição não há Cristianismo. Pois agora estes cientistas não promovem a ressurreição, mas nos tornam cada vez mais jovens (ou mais velhos). O diabo é quanto vai custar e quando essa pílula vai aparecer.
Eu, cá por mim, defendendo a minha parte, peço que seja logo, porque não tenho muito tempo mais para esperar. Mas a minha opção será ficar dois anos e meio mais novo, prolongando a minha juventude.
É a ciência a serviço do sonho do homem.
Uma coisa já está resolvida: o coquetel, de saída, dura pelo menos seis meses. Já é a metade do tempo pregado pelo Magalhães Pinto.